Os rostos banais do Mal
George Rodger, campo de concentração de Bergen-Belsen, Maio de 1945
Arquivos da LIFE
Em 1945, o mundo assombrou-se com a natureza e a escala do extermínio nazi. O fotógrafo britânico George Rodger acompanhava as primeiras tropas que entraram no campo de concentração de Bergen-Belsen e fotografou os sobreviventes esquálidos e as pilhas de cadáveres que chocaram os próprios libertadores, tropas experientes e que já haviam visto muito.
Após a rendição alemã, os dirigentes nacional-socialistas detidos pelos aliados foram julgados pelos crimes contra a humanidade nos chamados Julgamentos de Nuremberga. Capturado nesse período, Adolf Eichmann, o responsável pela logística e execução do extermínio judeu, conseguiu evadir-se e fugir para a Argentina. Descoberto mais tarde, foi raptado por uma unidade da MOSSAD, os serviços secretos israelitas, e levado para Israel em 1960. Em abril do ano seguinte, iniciar-se-ia o seu julgamento que duraria até Dezembro.
Fred Stein, Hannah Arendt, Nova Iorque, 1944
Espólio do fotógrafo
A filósofa judia alemã Hannah Arendt, naturalizada americana, acompanhou as sessões e cobriu o evento para a revista The New Yorker. Deste facto viria a nascer o livro Eichmann in Jerusalem, onde observa que os perpetradores do holocausto não eram seres de evidentes características demoníacas, monstros, óbvias encarnações do Mal, mas antes indíviduos boçal e terrivelmente normais. Formaliza no livro o conceito de "Banalidade do Mal", baseado no facto da sistematização do Mal não assentar predominantemente na excepcionalidade dos seus agentes, mas no desvio organizacional e na criação de uma ordem que os descupabiliza e isenta. Pacatos cidadãos, pequenos burocratas, ex-comerciantes, foram estes os executores do Mal.
Contemporâneos dos nazis, e seus aliados bélicos, os militares que dirigiam o Japão nas décadas de trinta e quarenta, construiram também eles um sistema que desumanizava e descupabilizava os seus membros. O domínio japonês, nas áreas que controlou nesse período, reflectiu-se igualmente num mortícinio elevado e gratuito, assente não num ideário de extermínio racial (ao contrário dos alemães), mas no exercício reiterado de um profundo desprezo relativamente aos dominados. Após a rendição japonesa, as tropas aliadas procederam, também neste teatro de operações, à detenção dos suspeitos de participação em crimes de guerra e contra a Humanidade. O seu julgamento é menos conhecido e divulgado que o dos seus correspondentes europeus, mas americanos, britânicos e australianos julgaram e condenaram um elevado número de militares japoneses. O Australian War Memorial conserva as fotografias dos suspeitos nipónicos. Estas imagens, realizadas por militares para fins processuais, não nos espantam por questões estéticas ou técnicas. Há nelas essa estranha evidência de normalidade que constatou Hannah Arendt. Estes homens que, à semelhança de Eichmann, declararam não ter culpa, ter apenas seguido as ordens, são os rostos banais do Mal.
Sgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-tenente Shigenobu Shibata, Sub-Oficial Masao Matsuda,Sub-Oficial Tatsuo Yamamoto.
Amboina, Ilhas Molucas,1945
Sgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-Oficial de 1ª classe Masuji Kuwabara, Sub-Oficial Yoichiro Fujihara, Sub-Oficial Chokichi Ikeda.
Amboina, Ilhas Molucas,1945
Sgt. R. L. Stewart, Suspeitos japoneses de crimes de guerra: Sub-Oficial Nichiyo Takeuchi, Sub-Oficial de 2ª classe Morikishi Arita, Sub-Oficial de 2ª classe Ichiyo Higuchi.
Amboina, Ilhas Molucas,1945