Sobre Julieta, de Pedro Almodóvar
Adriana Ugarte como Juieta
Nos palcos dos teatros, desde os tempos da Grécia de Ésquilo, os atores representam as desventuras dos herois. Suas escolhas mal realizadas os levam da alegria para a desgraça, transmitindo ao espectador os sentimentos de dor e compadecimento.
A tragédia mostra ao homem comum que suas dores são as mesmas desde sempre, e que é preciso pensar sobre elas para atingir um estágio de entendimento dos infortúnios do destino.
Ao fazer simples escolhas no dia a dia - como ter empatia com um desconhecido, ou até mesmo ser capaz de doar um minuto de sua atenção à quem pede - estamos expostos, como numa corda bamba, prestes a cair nas peças que a vida nos prega.
Emma Suárez (Julieta) e as "cores de Almodóvar"
Pedro Almodóvar faz Julieta - personagem principal de seu filme homônimo - transmitir ao espectador, a percepção das coisas aparentemente pequenas da vida. Elas resultam em algo maior, que acarretam questionamentos capazes de nos tornar fracos, se não buscarmos a superação através da catarse.
O filme, assim como as tragédias gregas, nos permite sentir iguais aos outros; perceber o quanto humano somos, repletos de limitações e sujeitos a erros cometidos por simples palavras, atitudes ou ausência delas. Nos faz olhar com compaixão para a dor alheia, tantas vezes negligenciada pelo egoísmo da nossa própria dor.
Seria estranho dizer que há alguém que não consiga imaginar a dor do outro. Talvez na maioria das vezes fingimos que ela não existe. Ignoramos o quão mal nosso semelhante se encontra por dentro, por mais que ele expresse pelo olhar o tamanho da sua solidão.
O princípio da tragédia
Agimos por vaidade, esquecemos o bem que o outro nos fez, e acabamos ignorando o valor que ele nos dá. Desprezamos o seu afeto, deixamos de lado o seu apoio, jogamos no lixo o seu amor.
Talvez leve uma imensidade de anos pra que percebamos que matamos os outros aos poucos, cada vez que os deixamos "no vácuo", sem ao menos dar uma chance para que o afeto se expresse.
Daniel Grao, como Xoan
Ninguém que não tenha sofrido pode imaginar o que é o sofrimento.
Mas afinal, quem não sofreu?