ESPAÇOS PÚBLICO-PRIVADOS NA ARQUITETURA E NO URBANISMO
Numa cidade como São Paulo, onde o adensamento urbano acontece de forma atabalhoada - pouco ou nada disciplinado, sem planejamento eficaz - e o interesse financeiro do setor imobiliário dita as "regras" na prática, espaços públicos de qualidade rareiam.
Um espaço de qualidade que é sempre lembrado, com muita justiça diga-se, é o conhecido Conjunto Nacional na Avenida Paulista. Jamais esquecendo-se de que ele é também residencial, os serviços ali encontrados no espaço comercial convivem com excelentes equipamentos culturais, como cinemas, livrarias e espaço comum que é sempre destinado a eventos diversos e exposições temporárias... e esse é um projeto dos anos 1950!
Conjunto Nacional, São Paulo - fotos de Guilherme Coelho e Paulo Takimoto
Operações urbanas, o chamado espaço público-privado nasce geralmente do interesse específico de uma empresa em construir fora dos padrões e regras ditadas pelo Plano Diretor da cidade. Para tal, esta empresa ou organização oferece uma contrapartida para um uso misto do espaço a ser projetado e compartilhado com o público.
Autores desconhecidos, fonte: internet
Muito antes de se ouvir falar em parcerias público-privadas, as conhecidas PPP, o Banco Itaú e a prefeitura do município firmaram um acordo arrojado, numa das mais belas obras de arquitetura contemporânea integrada a um refinado paisagismo, a Praça Alfredo Egydio de Souza Aranha e o Centro Empresarial Itaú Conceição, localizado junto à estação homônima do Metrô de São Paulo.
Nesta bela solução projetual, a magnífica praça liga uma avenida principal à uma rua secundária localizada em nível inferior, através de terraços verdes em níveis, em meio à esculturas e obras de arte.
Neste nível inferior, temos um maravilhoso parque situado ao lado deste complexo, que foi a residência de Lina e Paulo Raia, e que emprestam seus nomes ao local. E tudo isso se dá em meio a uma propriedade privada, e que tem o seu uso compartilhado com o público, que pode desfrutar de um incomum e bem vindo oásis moderno, permeado de espécies nativas e exóticas, cuja manutenção de todo este espaço é muito bem executada a cargo da empresa.
A felicidade deste projeto reside nesta integração quase perfeita entre esses dois níveis, que se dá por meio de uma escadaria para o público (talvez o único 'defeito' do projeto, considerando ser dos anos 1980), e por rampas internas e privativas para os funcionários do conglomerado.
Do árido asfalto da avenida principal à rua secundária em nível inferior, esta transição se dá de forma suave pela inserção do verde e de espelhos d'água, numa felicíssima e agradável integração.
Espaços extremamente democráticos, que integram transportes coletivos e empresa, o público e o espaço verde com qualidade ímpar, apenas comparável a países mais desenvolvidos para este tipo de empreendimento.
Não existem 'pecados' numa associação como essa, muito pelo contrário! Soluções de qualidade deste tipo, essas sim servem de exemplo daquilo que a cidade deveria buscar incessantemente, dada a extrema carência de áreas verdes para o público. Todos ganham num empreendimento assim!
Tornar a cidade um pouco mais humana e habitável, estes são caminhos que deveriam ser amplamente estimulados e seguidos.
Todas as fotos de autoria de Edgard Georges El Khouri, copyright ®elkhouri, exceto aquelas indicadas