Repúdio
A dor se fora com os anos… Assim como as lembranças…
Morto – como um rato ! Pouco a pouco, dilacerado… Humilhado, como a uma meretriz !
Nu, Caquético, em sua privações… As unhas, todas elas arrancadas, Uma a uma… como pétalas ! Tantas marcas de tal espancamento, Em seu franzino espectro… A dor que ninguém viu.
Quem mais se ocuparia em recordar ?
Na cova rasa, Vala comum dos Ideais, O saco plástico, Ainda a lhe cobrir o rosto exangüe, Esbugalhados olhos cegos A delatar inútil desespero.
Sobre seu corpo esfacelado, Farrapos da bandeira comunista, Final alegoria dos carrascos !
Segue o Tempo… Passa a Vida… E o Augusto General Cruza novamente o Oceano… E à Casa torna, Altivo… indiferente… Sem remorsos… Sem receios… Sem constrangimentos…
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Salvador Allende (1973)
Adeus, camarada!
Último alento, Allende se foi…
Um tiro… o sangue… silêncio.
Infâmia!
Adeus, camarada Allende! Tua vida não foi em vão! Mil mortes te honraram!
Teus companheiros te clamam… O vazio se hospedou em nossas almas, camarada! Mil vozes te clamam…
Teus companheiros te honraram! As fardas se alojaram em La Moneda. Nem mil mortes podem vencê-las…
Mas teus camaradas não caíram. Porque somos a Essência! E a Essência não pode ser vencida.
Somos o Ideal e o Filosófico! E viveremos para o dia da Perfeição e da Igualdade…
Adeus, Camarada Allende!
Tua morte não foi em vão!