O Ópio do Povo
Mas quem são os líderes que conduzem a boiada? Quem são aqueles, montados em seus cavalos, tocando o berrante, manejando o chicote para forçar o gado a deixar o pasto verdejante e seguir adiante, sabe-se lá para onde? Três ou quatro matutos que mal sabem falar, açoitando os bois, às centenas, enterrando as esporas nas virilhas dos cavalos, animais tão fortes, porém submissos a outros seres tão frágeis…
Assim é a humanidade: um bando de seres, caminhando sozinhos, mesmo estando reunidos, cada qual em seu pequeno mundo, impotentes para evitar serem aboiados pelo berrante de um ser aparentemente mais forte, dotado, porém, das palavras supostamente proferidas, há séculos ou milênios, por mensageiros enviados por um deus desconhecido, palavras que a plebe não compreende, mas as escuta e acredita no seu poder, no poder das religiões e de seus livros sagrados…
Para o povo, não é a Ciência que cura, mas sua fé incondicional nas palavras de um mestre, um profeta, um avatar que, talvez, nem tenha existido… Curiosas são as próprias religiões: seus profetas condenaram aqueles que os antecederam, acusando-os de farsantes, curandeiros, bruxos… Quebraram seus ídolos de barro, rasgaram seus livros sagrados para colocar os novos testamentos em seu lugar…
A História da humanidade é uma sucessão de guerras, algumas sagradas, outras profanas, mas todas destinadas à conquista de outros povos, para usurpação de suas riquezas, submissão de seus soldados, como escravos, e exploração e abuso sexual de suas donzelas… Os anos passam, as pessoas morrem, os ídolos desaparecem, novos livros sagrados são escritos, mas o povo continua sendo a manada, açoitada pelos peões a cavalo, que mal sabem o seu próprio destino, tão miserável quanto daquela boiada, a caminho do matadouro…
No entanto, a religião sustenta a política, que sustenta a riqueza, que sustenta o poder… E o povo, singela massa de manobra?... essa gigantesca horda de miseráveis, carrega o mundo em suas costas, qual uma gigantesca manada de gnus, zebras e gazelas, pelos desertos do Serengeti, caminhando sem cessar, ano após ano, retornando sempre ao mesmo lugar, em busca de água e alimentos, em uma fuga desesperada dos seus predadores, que os atacam, impiedosamente, para cair nas mandíbulas de outros predadores no seu caminhar incessante, sem sentido, sem propósito, a não ser o de preservar a própria vida e assegurar a sua espécie …
Assim somos nós, reles mortais, meras peças no tabuleiro da vida, a serviço das igrejas, das sinagogas, dos templos, dos governantes, dos milionários, dos oportunistas e exploradores que vivem de forma nababesca, consumindo as riquezas produzidas por nós, operários e trabalhadores, enquanto sofremos e morremos sem conhecer o prometido "estado do bem-estar social"…e que será de nossa gente humilde, de nosso planeta Terra, tão maltratado... o que será da vida, enfim?...