A beleza salvará o mundo: a literatura longe dos pretextos
A arte tem perdido o seu espaço para suas justificativas. Na busca incessante pelo conhecimento prático, esquece-se da excitação que se encontra na admiração pela obra. Esquece-se, ainda, da fala do príncipe “idiota” dostoievskiano, que profere que “a beleza salvará o mundo”, prendendo-se, apenas, nas justificativas pela criação artística.
O linguista, filósofo e crítico literário búlgaro Tzvetan Todorov é um dos pensadores mais notórios do nosso século. Formalista por formação, trata agora da literatura sem pretextos, promovendo que a literatura está em perigo, por esta, ultimamente, só existir pelas possíveis análises. Quando o filósofo trata de Marina Tsvetaeva, talvez a maior poetiza russa que já existiu, destaca que ela escolheu por fim à sua existência por ter desenvolvido uma obra complexa e encontrando inspiração na busca apaixonada do belo e do inefável. Tsvetaeva toma em vida a prova de que a beleza salva: sua obra arredia e minunciosa foi sua própria vida.
As ligações pedagógicas, histórico-políticas e ou filosófica não são e nunca serão motivos primeiros para uma leitura de um texto das belas letras, cabendo ao leitor, depois de dá-se o prazer de perceber que a obra fala por sí, tomar a liberdade de trazer a tona suas ligações a outros pontos que não se trate da própria obra. Aliás, penso que o motivo por ainda existente desmerecimento à literatura é dado pelo fato de que aprendemos teorias e nos distanciamos da própria beletrística.
Se Todorov nega a seu próprio ofício quando diz que a literatura é paixão e não teoria, penso que devemos negar a obrigatoriedade de estabelecer a busca, no momento que caberia apenas deleite, pelo conhecimento prático, poderíamos pensar a literatura como a personificação do idiota deus, aquele tipo contrário a autodestruição, assassinato e humilhação que o integrante do Círculo Petrashevski tinha em mente quando afirmou que a beleza salvaria o mundo.