#somostodosmaju
A Maria Júlia, mulher que trata da previsão do tempo no JN, sofre nas redes sociais cotidianamente com piadas, ofensas, deboches e xingamentos racistas.
Tais comentários são feitos por pessoas que mostram a cara, sem nenhuma vergonha de expor em seus perfis seus preconceitos e ignorâncias. Mais que isso, comentem um crime inafiançável coletivamente.
Não acho que essas pessoas devam ir para cadeia, não há lugar para mais ninguém nesses infernos no Brasil. Penso que a pena poderia passar por um curso obrigatório de um ano sobre desigualdades raciais e prestação de trabalho em postos ocupados majoritariamente pela população negra.
Afora minhas proposições penais não embasadas, cabe dizer que há pelo menos três conceitos fundamentais de racismo: uma doutrina pseudocientífica, corpo de atitudes e sistema estrutural.
As pessoas que ofendem a "Majú", creem na validade dessas três dimensões, elas reproduzem o que de mais obscuro e tosco o gênero humano ainda preserva.
O comportamento dessas pessoas e todas estatísticas sérias de violência, acesso a educação, saúde e bens sociais desmentem a tese política do diretor-geral de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, que tem um livro chamado "Não somos racistas".
Nesse texto o chefe de Maju se posiciona fortemente contrário as cotas raciais, pelo fato de não termos um racismo assumido no Brasil, em um arrazoado que despreza os avanços da sociologia e da antropologia, Ali Kamel reforça o mito da democracia racial (Florestan Fernandes) e presta mais desserviço do que qualquer outra coisa.
Tentar destituir o outro de sua dignidade é uma ação que expõe fragilidade ética e quando isso ocorre em grande escala, como na avalanche preconceituosa sofrida por Maju, é impossível não pensar em crise civilizacional. Nossos tempos não indicam hipóteses diferentes.