O Pagador de Promessas, um clássico do cinema brasileiro
O Pagador de Promessas é uma peça de teatro, escrita em 1959 por Dias Gomes, e é considerado o trabalho mais célebre desse dramaturgo soteropolitano. Foi adaptado ao cinema por Anselmo Duarte em 1962, sendo indicado a vários prêmios nacionais e internacionais, inclusive o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e conquistando alguns deles como a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França. O filme tem pouco mais de meio século, mas trata verdadeiramente de um tema atual, pois é uma forte crítica sociocultural e religiosa da vida brasileira.
A história começa quando o personagem principal, conhecido como Zé-do-Burro, realiza dentro de um terreiro de candomblé, uma promessa para Santa Bárbara, que no sincretismo religioso é chamada de Iansã, e aí reside o futuro clímax da narrativa. Zé promete percorrer sete léguas do interior da Bahia até Salvador, carregando uma cruz nos ombros, com o intuito de pagar a promessa feita e a graça alcançada, que tinha por objetivo a recuperação do seu grande amigo, também responsável por seu apelido e sustento na lavoura: o seu burro.
Zé inicia a jornada com a cruz, acompanhado por Rosa (sua mulher) até a Igreja em Salvador e após a longa viagem cansativa, pretende esperar pelo amanhecer para conversar com o Padre responsável. Chegando lá, enfrenta as primeiras dificuldades, pois além da Igreja ainda estar fechada, começa uma forte chuva e um malandro conhecido como Bonitão dá em cima de Rosa. Zé sempre obstinado e inocente, não desgruda da cruz e se mantém fiel à promessa.
Quando o dia amanhece, começa a explicar sua saga para o Padre e se depara com o maior dos problemas: sua entrada na Igreja é proibida. Segundo o Padre, o Zé é pretensioso ao querer salvar um burro através de uma promessa, também pensa que ele quer ser um novo Cristo e para completar, na opinião católica a promessa foi feita para Iansã, porque aconteceu em um “terreiro de macumba, de feitiçaria”, desqualificando o desejo do Zé de realizá-la para Santa Bárbara.
Em sua ignorância e simplicidade, Zé-do-Burro é um guerreiro e resolve lutar para poder realizar sua promessa: por acreditar que Santa Bárbara e Iansã são uma só, por medo da Santa e também por uma questão de honra não “arreda o pé” da frente da Igreja. Sua história chama a atenção da imprensa, dos vendedores locais, do alto clero, da população em geral, dos fiéis e beatas da Igreja, da polícia e dos seguidores de Candomblé, que dão todo apoio a Zé, já que eles também não podem entrar na Igreja nem mesmo durante a Festa de Santa Bárbara e sempre permanecem nas escadas do lado de fora. É oferecida a chance da realização da promessa dentro do terreiro e embora Zé não seja preconceituoso, não aceita porque prometeu cumpri-la no interior da Igreja para a Santa.
Zé é considerado por muitos uma ameaça, inclusive pelo Bonitão, pela Igreja, pela polícia e pelos políticos locais, nem mesmo Rosa apoia o marido, tentando em todos os momentos convencê-lo a ir embora. A impressa voraz e inescrupulosa, representada por um repórter, utiliza da imagem de Zé de maneira sensacionalista e completamente equivocada, colaborando para o fim trágico da história. Zé-do-Burro em nenhum momento desiste de seu intuito e paga um preço muito alto por sua ingenuidade e religiosidade, tendo sempre em mente a fé em Santa Bárbara/ Iansã.
Recomendo muitíssimo esse filme e quem ainda não assistiu, reserve um tempo para assistir. Enquanto isso, confiram abaixo o trailer: