Cai a Noite
Vinte e três horas. A mão direita ainda segurava o copo de uísque sobre a mesa, enquanto a esquerda tateava um porta retrato empoeirado. Ela já não estava mais lá.
Sua ausência havia se misturado a um estranho sentimento de euforia, ocupando cada cômodo do apartamento. A cabeça girava ao som de uma cidade que não dorme e uma chuva fina alcançava a varanda onde ela também não iria mais.
As luzes acesas, os carros na mesma direção, tudo estava fora do lugar, algo havia se perdido entre os dias. O coração batia manso, quieto e a chuva não parava de cair.
Havia uma chance de reencontrá-la, mais do que isso, havia uma chance de se encontrar. Por onde começar ? A noite lhe fazia mais um silencioso convite, e dessa vez não havia mais porquês.
O vento arrebatava a última lágrima desde que ela se foi, e seus passos voltaram a percorrer a cidade, mas desta vez, por um novo caminho...