O romance 'O Homem Fragmentado' não deixa a dever para obras estrangeiras
Capa do livro “O homem fragmentado”, com a fotografia de Étienne-Jules Marey
Hoje se fala muito de escritores nacionais. O alemão Michael Kegler, um dos grandes entusiastas da literatura feita em língua portuguesa e que já traduziu autores como José Eduardo Agualusa, Gonçalo M. Tavares e Paulina Chiziane, disse que "o Brasil tem muitos bons escritores e é preciso mostrá-los".
Na minha opinião, também penso que existem escritores nacionais tão bons quanto os demais, e a Bia Machado, que é professora, escritora, editora e revisora, nos apresenta um deles em sua resenha sobre a obra "O Homem Fragmentado", de Tibor Moricz. É só conferir:
"O Homem Fragmentado", de Tibor Moricz, é ficção científica para nenhum fã de Philip K. Dick colocar defeito. Não é exatamente o mesmo estilo, mas tem questões humanas e filosóficas no enredo, algo que acredito possa ser classificado como "ficção científica soft". Faz cerca de um mês que li o livro e ainda tenho muitas imagens da narrativa do Tibor na mente. Acho que fiquei pensando esse tempo todo, também, em como resenhá-lo, já que qualquer parte do texto abordada na resenha me pareceria um spoiler, estragaria qualquer surpresa. Sim, estou certa de que seja o que for que eu coloque a mais aqui a respeito do enredo resultará em um chatíssimo spoiler, o que eu não desejo pra ninguém, ainda mais em se tratando desse livro.
Tibor Moricz já escreveu outros romances, publicados por editoras como Tarja e Draco, além de contos em várias antologias. É um autor premiado em concursos literários e eu o conheci por meio de um blog em que ele escrevia textos relacionados principalmente ao mundo literário, além de resenhas e indicações de livros.
Publicado pela Terracota, "O Homem Fragmentado" vai nos contar sobre a vida de Pedro a partir de um acontecimento trágico: a morte de seu filho Vitor por acidente, um episódio pelo qual ele se culpa imensamente. Com isso, apenas o que ele quer é apontar uma arma para a cabeça e apertar o gatilho.
Agora, conforme a sinopse nos questiona, "imagine um 'depois disso'". E esse "depois" é perfeito, pois seu filho está vivo, como se o acidente nunca tivesse acontecido, tudo parece tão... sim, apenas "perfeito" descreve. Como?
O livro de Tibor fala sobre realidade alternativa. Não uma, mas várias. De novo, a sinopse: "imagine-se morrendo inúmeras vezes e vendo surgir novas e sucessivas realidades que violentam a sua ciência de realidade". E aqui eu tenho que concordar com o produtor dessa sinopse: são realidades que violentam tudo o que poderíamos pensar a respeito do que seja o real, a vida, a morte. O que é a morte, afinal?
Foi uma leitura de muitos questionamentos. Quando conseguia parar, sentia que precisava conversar com alguém sobre o que tinha lido, de tão interessante que achei a forma como o autor lançara esses questionamentos em meio a um enredo em grande parte ágil, que não dá ao leitor muito tempo, na hora, para pensar naquilo que aconteceu. O jeito é acompanhar tudo, desesperado, esperando que Pedro consiga deixar de puxar o gatilho.
Ou será que atirar em si mesmo seria principalmente a única saída que lhe restava?
Sem dúvida, um dos melhores livros que li em 2013 e um livro que não deixa nada, nada mesmo a dever para obras de autores estrangeiros tão cultuados por aqui.
Fonte: No Paraíso de Borges / Bia Machado