Onde tudo começou...
Tarde calma, e então bate aquela saudade. Me sinto sozinha aqui, desaparecendo no meio de um silêncio aqui no meu Nordeste. Aqui pela tarde todos calam, o vento sopra na rua, os passarinhos cantam avisando que lá vem poema, que lá vem saudade derramada no papel. E foi aqui na praça, na calmaria da cidade, com os pássaros cantando, onde tudo começou...
Antes quem me embalava era minha mãe, hoje, somente a saudade. Lembro-me dela com carinho. Um amor puro, amor gritado, limpo como seus cabelos, cabelos negros. Ah, eu era apaixonada pelo seus cabelos, o cheiro de cuidado, cheiro que me acalmava, me acalentava. Cheiro que se perdeu no tempo, que sumiu sem dizer adeus, cheiro esse que eu tenho gravado, e sei bem que quando lembro, mares inundam meus olhos. E assim, logo vejo a saudade se declarando, despejando-se em lágrimas.
O tempo aqui passa rápido, a tarde logo querendo dizer adeus. O canto dos pássaros está diminuindo, agora eu escuto ele indo embora, sumindo aos poucos, lentamente. Já escuto crianças correndo, pois é a hora de voltar da escola, hora de receber aquele abraço apertado, aquele abraço matando uma saudade breve, pois saudade tem urgência. E é por isso que aqui eu sofro, e aqui escrevo essa crônica, uma crônica de menina, pois sempre serei menina ao sentir saudade, sempre serei a menina que sofre com urgências. Mas tenho uma saudade que nunca será matada, seja na porta da escola ou da faculdade, seja em casa ou aqui nessa praça.
A noite chegou, veio solitária, veio querendo me acompanhar. Tenho que ir para casa, sei que chegarei e não verei ninguém, apenas a saudade que foi na frente dizendo que iria me esperar. O meu ônibus está vindo, irei embora, pois os pássaros já não cantam mais aqui, apenas a saudade, que nunca irá se calar.
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