A tênue linha que separa razão e loucura
Poucas são as pessoas sem diploma na parede que se atrevem a analisar a mente de um indivíduo tido como louco pela sociedade, mesmo que esse sujeito seja personagem da ficção, caracterização que a teoria literária definiria como redonda ou esférica, dada a imprevisibilidade de seus atos. Ainda mais em se tratando do Coringa, um dos mais impressionantes vilões já criados.
Alan Moore fez uma das mais bem sucedidas análises psicológicas ao publicar A Piada Mortal, em 1988. Para conseguir expor graficamente seu roteiro, utilizou o talento de Brian Bolland, criando uma das mais perfeitas obras relacionadas à nona arte. Pensava-se que ninguém mais ousaria explorar uma mente tão insana e enigmática.
Pensou-se errado.
Vinte anos mais tarde, Brian Azzarello resolveu dar sua visão sobre o Palhaço do Crime. Com a arte impactante de Lee Bermejo, criou Coringa, história que, se não se equipara ao conto espetacular de Moore e Bolland, leva o leitor a equilibrar-se na tênue linha que separa razão e loucura.
O narrador de tal jornada é Jonny Frost, um simples fora-da-lei que acompanha o maior criminoso de Gotham City numa espetacular e sangrenta saga para a retomada do poder. Frost acompanha de perto todo o inexplicável modo como seu superior arquiteta armadilhas e aplica castigos àqueles que não o agradam. O traço de Bermejo e as cores aplicadas por Patricia Mulvihill exploram semelhanças entre narrativa gráfica e cinema. Impossível não se lembrar do Coringa de Christopher Nolan, vivido por Heath Ledger nas telonas.
Ao final, Azzarello nos deixa a certeza de que, assim como uma doença, há muitos coringas espalhados pelo mundo real e não há cura ou homens-morcego suficientes para tais pragas.