A Viagem
Em tempos de tramas simplórias e lineares, A Viagem, o novo filme dos irmãos Wachowski (Matrix) e Tom Tykwer (Trama Internacional) se sobressai em razão de seu ambicioso projeto cinematográfico. Reunir seis estórias, com personagens e épocas distintas e fazer com essas tramas se interliguem e sejam atrativas para o espectador é um desafio, que como tal, pode ser vencido ou perdido.
O filme é uma verdadeira “viagem” por diferentes mundos, são 172 minutos que exigem a atenção dos “passageiros”, pois com tantas subtramas sendo desenvolvidas é necessário um olhar atento aos detalhes. A presença dos mesmos atores nas diferentes camadas da estória ajuda na compreensão do que se passa ali e evita que a transição de cenários provoque alguma incompreensão. O sexteto de narrativas que envolvem passado, presente e futuro demonstra que, conforme resume uma das personagens, “as nossas vidas não nos pertencem, estamos ligados a outros no passado e no presente e com cada ação moldamos o futuro.” É justamente sobre essa ideia de interconexão de destinos que o filme se sustenta. No passado desenvolve-se o drama de Adam Ewing (Jim Sturgees), um advogado que cuida dos negócios escravagistas da sua família no início do século XIX, há também em 1930, a estória de Robert Frobisher (Ben Whishaw) jovem compositor aspirante à fama que em virtude disso se oferece para trabalhar com Vyvyan Ars (Jim Broadbent), um músico que outrora fora brilhante e agora vive recluso. Encerrando a incursão pelo passado, apresenta-se a estória da jornalista Luisa Rey (Halle Berry) que descobre uma série de falhas na construção de um reator nuclear.
Nos dias atuais, Timothy Cavendish (Jim Broadbent) é um editor que se vê as voltas com os livros encalhados de um de seus autores, a situação muda repentinamente quando o autor (Tom Hanks) assassina um crítico na frente de várias pessoas.
No futuro, desenrola-se a estória de Sonmi-451 (Donna Bae), garçonete de uma rede de fast-food que vive como um robô programada para desempenhar suas tarefas sem manifestar qualquer reclamação, até o dia e em que se junta a um grupo de rebeldes. Em um mundo pós-apocalíptico, vive Zachry (Tom Hanks), líder de uma tribo, que enfrenta um dilema quando Meronym (Halle Berry), integrante de uma civilização mais avançada, se muda para a sua área. A produção merece aplausos pela adaptação do romance “Cloud Atlas – Além das Nuvens" de David Mitchell, que até então era tida como impossível. Muito embora o trabalho seja prolixo em alguns pontos, o esforço de criar vários universos diferentes entre si e por fim conseguir encontrar algum elo entre todos é um trabalho árduo e que não se vê com muita frequência na Hollywood atual. “A Viagem”, que não foi indicada a nenhuma categoria do Oscar, parece ter sido ignorada nesta temporada de premiações. De fato o filme não é perfeito, porém é bem superior a boa parte das produções disponíveis no mercado.
Confira o trailer do filme