Olhar para frente ficou para trás
Eu tinha vinte minutos de espera e uma câmera na mão. Sentada na praça pensando na vida, lembrei-me sobre o trabalho do fotógrafo BabyCakes Romero, que retratou a compulsão das pessoas pelos seus smartphones nas ruas de Londres. Em entrevista a um site americano, Romero destacou a falta de interação humana gerada pela facilidade dos celulares e o quanto essas ferramentas, que deveriam auxiliar na aproximação das pessoas, acaba na verdade afastando. Em suas belíssimas imagens, observamos casais, amigos, pessoas aleatórias, que estão lado a lado, mas absorta em seus próprios universos virtuais. Então olhei a minha volta. Não era preciso ir até Londres – essa realidade também é nossa, esteja você em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia ou em Florianópolis, como eu. Utilizei meus dez minutos de espera restantes para ver se conseguia clicar algo do gênero. O resultado compartilho com vocês nas imagens abaixo.
Ouço dizer que esse é um problema dos jovens. Mas não, não tem idade. Vi jovens, adultos, crianças, muita gente olhando para baixo, concentrada apenas na tela do seu smartphone. Enquanto isso, os carros iam passando, os vendedores ofertando os mais variados produtos que não podemos viver sem, o sol ia se pondo lindamente. Se você não via na hora, sem pânico: no instagram as imagens estariam copiladas mais tarde.
Cenas como essa me lembram muito o filme Her. Todo mundo passando, rindo sozinho, se indignando sozinho, compartilhando as informações com o mundo – virtual, não o que estão inseridos. É como se nosso corpo físico fosse um avatar do que somos online, e não ao contrário. Talvez seja isso: vivemos para alimentar o conceito virtual que estamos criando. E as coisas rotineira a nossa volta não tem sentido se não tiver um filtro, muitos likes e uma legenda bacana.
Pessoas sentam do nosso lado e nem notamos. Procuramos histórias para nos entreter online, sem perceber que existem infinitas possibilidades a nossa volta, muitos causos que jamais foram contados e jamais serão, porque nosso ouvido está fechado e nosso olhar não procura mais os detalhes escondidos nos cenários das praças, prédios e cidades.
Mesmo quando estamos acompanhados, não resistimos. Difícil controlar o ímpeto de pegar o celular do bolso para ver o que significa aquela vibração insistente. Se estamos sozinhos, esperando, divagando ou seja lá por qual motivo, procuramos companhia dentro das telas, ao invés de mergulhar na solidão e descobrir que ela não é tão feia, nem tão gelada, muito menos tão inapropriada como nos dizem. Solidão a dois, como cantava Cazuza, é bem pior. A dois, a três, a mil – somos medidos pelo número de seguidores, somos sagazes em nossos comentários, somos perfeitos em nossa imagem compartilhada. Mas são essas imagens que deixamos para quem está de fora. Estamos expostos, mas não dispostos, enxergamos, mas não vemos.
(Todas imagens são de minha autoria).