Un Cuento Chino
É o terceiro filme escrito e dirigido por Sebastián Borensztein, jovem e premiado cineasta argentino — o primeiro foi “La suerte está echada” — e diretor da série de TV em 69 episódios, “Tiempo final”.
Ricardo Darín, Ignacio Huang e Muriel Santa Ana estão perfeitos na história baseada, conforme a legenda, em fato real. A veracidade do tal “fato” é questionável. Há opiniões e reportagens para todos os gostos. Contudo, aquelas primeiras cenas, das quais se origina a trama, nos prendem a respiração até às últimas. Ah! a cena final…
Filmado em Buenos Aires, “Un Cuento Chino ” é um bom filme sem tramóias, sem luxo. Apresenta momentos tocantes para um espectador atento, como a imagem de Roberto indeciso diante da fechadura da porta do hóspede intruso! Mostra a desconfiança e a indiferença ao estrangeiro. O roteiro tão bem amarrado nos leva a participar, a sofrer, a dar boas risadas.
Se a mágica de um livro, de um filme, de uma obra de arte, de uma viagem está na surpresa da primeira vez, “Un Cuento Chino” é o máximo desta filosofia de deixar-se surpreender, de permitir a invasão da novidade de experienciar um livro, um filme, uma foto sem uma cartilha-desmancha-prazeres de resenhas indiscretas, resumos e orelhas.
Borensztein, com a grandeza da simplicidade, revela neste drama os mais complicados e cômicos viézes das relações interpessoais. Num lance genial, a quebra da “estante-altar” traz Roberto de volta à realidade, despertando-o do culto alienado à memória da mãe. Claro, isto é uma instigação para você, leitor, ver o filme!
Mari (Muriel Santa Ana) é uma amante alegre, generosa, não-invasiva, dá até vontade de ser homem para se enamorar dela. O chinês Jun (Ignacio Huang) é adorável; uma excelente interpretação. Roberto (Ricardo Darín) se rende ao misterioso significado da vida e se torna um mestre na definição de Guimarães Rosa:
“Mestre é aquele que, de repente, aprende.”