Urtiga: o outro lado da folha
Foto: brewbooks, Creative Commons
Sinônimo de queimação, da pobre urtiga (Urtica dioica) brotam os dolorosos derivados urticar, urticação, pois contém ácido fórmico e suas enzimas são parecidas com o veneno de cobra… mas é rica em vitaminas A, B e C, clorofila, cálcio, ferro, manganês e magnésio. É diurética e antidiarréica, cura as infecções da boca e as aftas, sendo usada também para fertilizar o solo, coalhar o leite e como forragem para gado e coelhos.
A urtiga é uma erva ótima para a pele e os cabelos, combatendo eficazmente a caspa. Um chá bem forte na água do banho deixa a pele macia e estimula a circulação. A máscara de urtiga rejuvenesce e clareia a pele. Extratos podem ser usados para tratar artrite e anemia.
Claro, as suas folhas devem ser manipuladas com cuidado, pois podem irritar seriamente a pele; contudo, os soldados romanos as esfregavam na pele para se aquecer nas trincheiras geladas. Curiosamente, algumas tribos americanas usavam a planta como anestésico antes de cirurgias ou para aliviar a dor. Também colhiam as folhas que, cozidas como espinafre, os alimentavam, principalmente em época de escassez. Fervida numa sopa de legumes, as folhas da urtigas aumentam-lhe o valor nutritivo.
O cultivo desta planta é dos mais antigos em climas mais amenos. Nos países nórdicos e na Escócia era usada para fabricar linhas e redes de pesca; na Sibéria, para papel e óleo para tingimento. No Nepal e no norte da Índia ainda é muito popular na cozinha combinada com temperos indianos. Na Europa, o extrato de urtiga é um ingrediente em vários doces, xaropes e licores. Hans Christian Andersen, o dinamarquês, fala, em seus deliciosos contos de fada, dos mantos tecidos com urtiga.
Além de bonita, a urtiga é boa companheira para outras plantas, protegendo-as de predadores; o chá de urtiga regado em hortas torna-as mais resistentes às pragas. Atrai pássaros, abelhas e outros insetos úteis.
Foto: John Haslam, Creative Commons
As borboletas apreciam a urtiga no cardápio. Talvez aí a origem da lenda: o noivo deve oferecer um ramalhete de urtiga com sementes à amada que, em cortejo, deverá espalhar as sementes em um canteiro ensolarado. Assim, a casa, o jardim, o quintal ficarão sempre enfeitados com borboletas!
Ainda no mundo mágico, as folhas atiradas ao fogo afastam os perigos e são poderosas como amuleto. Uma crença muito antiga diz que um ramo de urtiga debaixo da cama faz com que o paciente se recupere mais depressa.
Também as plantas nos ensinam: quem só enxerga espinhos não aproveita do coração!
Fontes: “As Plantas do Sítio” de Rosy Bornhausen (1995), Encyclopedia of Organic Gardening (2005), Dulce Rodrigues.