Quando as crianças choram
O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird) é o único romance lançado pela escritora americana Harper Lee. Recentemente, sua sequência “Go Set a Watchman” – ainda sem tradução para o português – foi anunciada.
Narrado em primeira pessoa pela personagem Jean Louise Finch, ou Scout, a história se passa na pequena cidade de Maycomb County, Alabama, nos anos 1930. Um lugar onde todos os moradores se conhecem e sabem da vida uns dos outros. Os sobrenomes em Maycomb significam um estilo de vida e determinam a personalidade dos indivíduos da família, por exemplo.
O romance foi eleito pelo Librarian Journal como o mais importante do século XX e é dividido em duas partes. Na primeira, Scout nos apresenta os moradores de Maycomb, sua família e amigos. Ela mora com seu irmão Jem e seu pai, Atticus, um advogado reconhecido e respeitado por seu trabalho. Nesses primeiros capítulos também conhecemos Dill, um garoto um ano mais velho que Scout que vem passar o verão em Maycomb com sua tia, a Srta. Rachel. Juntos, as três crianças – Scout, Jem e Dill – brincam e aprontam. Um dos passatempos preferidos é tentar tirar o vizinho recluso dos Finch, o Sr. Arthur Radley ou “Boo” Radley, de dentro de casa.
Gregory Peck e Brock Peters em cena de “O Sol É Para Todos”, de 1963.
Já no final da primeira parte, começamos a conhecer um lado preconceituoso da cidade. Atticus Finch é nomeado advogado de defesa de Tom Robinson, um negro acusado de estuprar uma garota. Daí para frente, tanto Atticus quanto as crianças sentirão o peso de “estar do lado dos negros”. Ao longo da segunda e última parte, o leitor acompanha o desenrolar do caso e o julgamento de Tom. A graça e o fascínio deste livro estão no fato da história ser contada por uma criança. Scout começa a narrativa com seis anos e termina com oito. As crianças se revoltam com a injustiça presente em sua comunidade e não entendem porque as pessoas agem daquela forma. João Pereira Coutinho, para a Folha de S. Paulo*, lembra: “Como afirma Atticus a um dos filhos, as barbaridades sempre aconteceram, sempre irão acontecer – e só as crianças parecem chorar com isso.”
Além de fazer com que o leitor queira mais ao final da história, “O Sol é Para Todos” é – claramente – um romance que fala sobre segregação racial, mas, mais ainda, sobre o amadurecimento de todos nós e como deixamos para trás algumas experiências e valores ao envelhecermos.
Texto publicado no Beco Literário.
*Se você se interessou, vale a pena ler o texto de Coutinho na Folha de S. Paulo.