Mestre Suassuna e o Romanceiro Brasileiro
Há alguns anos, tive acesso a um dos programas, o nono da primeira coleção "Produções Culturais", gravados pelo Centro Cultural Banco do Nordeste, cujo título é "Ariano Suassuna e Antônio Nóbrega - Os Romanceiros Ibérico e Brasileiro". Meses atrás, repeti o feito, saudoso que estava quanto às atuações de Nóbrega e à sapiência do poeta Suassuna.
Mestre Ariano, paraibano de João Pessoa, nascido em 27, é autor de "O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta", uma verdadeira obra-prima da literatura nacional, para a qual Suassuna dedicou nada menos que dez anos de sua vida. Além da obra em destaque, o Imortal contribuiu, sobremaneira, para o teatro, tendo escrito várias peças como a "Auto da Compadecida" e "A Farsa da Boa Preguiça", dentre outras. Também é ligada ao seu nome a ideologia do Movimento Armorial, cujo objetivo era criar uma arte erudita a partir da união de todas as formas de expressão artística (música, dança, literatura, teatro etc).
Foi apoiado na "Pedra do Reino" e no Movimento Armorial que Ariano deu início ao citado programa, analisando as influências das antigas obras ibéricas para o Romanceiro brasileiro. A cada tempo de prosa e de poesia recitada, a palestra de Suassuna era enriquecida pela performance do músico, dançarino e ator Antônio Nóbrega que, por sua vez, dava sua própria interpretação aos poemas e textos analisados pelo gênio paraibano.
Dá-se a denominação de Romanceiro a "um conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central, onde cada poema é um romance. Também poder ser entendido como uma coleção de poesias e canções populares de um país ou de uma região". No posto assunto, nada ou pouca coisa pode ser mais coerente do que ouvir falar do tema pela boca de um dos maiores romancistas deste país.
Além de todo o conhecimento didaticamente repassado por esse escritor, foi possível notar, quando das suas falas, uma das suas marcas registradas: o senso de humor. Em determinado momento de sua análise, Ariano lembrou, não me recordo muito bem por qual razão, de uma palestra certa vez proferida num evento de psicologia. Meses mais tarde, outro convite, daquela vez advindo de um núcleo de psiquiatria, fez com que o espirituoso escritor concluísse, não exatamente com essas mesmas palavras: nunca entendi a razão que motivou tais convites, contudo, tenho a leve desconfiança de que eu era, para eles, um caso.
Essa humildade que lhe é inerente, associada à genialidade que o caracteriza, faz com que eu, "um mais um" admirador, tenha por esse admirado um enorme carinho. Ariano Suassuna é, para mim, muito mais do que o autor de tantas obras que o credenciaram a pertencer à Academia Brasileira de Letras. Ele é, sem falso elogio, um exemplo de vida!