Abençoado seja o nosso tempo
Um relógio, um calendário... precisamos tanto disso, né? É pecado acreditar que você está no tempo certo? Que tudo tem seu tempo? Devagar é que se anda? A vida às vezes se encarrega de ser um duelo entre você e o deus Chronos. Respirar, aquietar-se, viajar e relaxar é sempre uma boa opção.
O tempo que passamos no trabalho, na maioria das vezes, supera o tempo que fazemos coisas para nós mesmos, no sentido mais possessivo da palavra "nós". E aquela ideia de que "o tempo tá curto" se espelha na nossa cara frustrada por ter dedicado mais tempo às coisas nem tão nossas assim, e deixar, por exemplo, de tirar o buço imenso, a barba de meses, que só precisariam de alguns minutos do nosso dia para serem temporariamente eliminados. Em certa frequência vem aquele arrependimento temporário pelo ato semanal de procrastinar a ida à academia ou às caminhadas. E é esse tipo de procrastinação que faz a gente ver os dias correrem e deixar as coisas para o ano que vem. Dizem que o medo é um grande ladrão. E é mesmo. Mas a procrastinação é uma ladra de minissaia e batom vermelho. Seduz que é uma beleza!
Coroa, Ilha de Vera Cruz, Bahia. Foto: Rosita Rose.
Conhece algum "teste" que faz parecer que o tempo realmente voou? Conheço um infalível: tenha em mente o projeto/ideia de voltar à academia, voltar a estudar, terminar algumas leituras que você sabe que vale a pena, ir mais à praia, etc. Faça uma lista. Elenque tudo no final do ano, tipo aquela lista enorme de livros que você costuma anotar, mas não consegue sequer ler cinco em um ano desempregada. Vá somando essa vontade com as responsabilidades diárias, que você vai encaixar rapidinho, sem notar, como um grande empecilho para se jogar de vez no que teu corpo e mente estão implorando. E adiando ali e acolá, você percebe que o ano já está acabando e acha que fez pouca coisa para você. Vixe... Levanta a cabeça!
Luna na praia. Foto: Andrea Giallanza
Janeiro chega e você espera que as primeiras semanas passem para, pelo menos, ajustar seus planos logo no início. Fevereiro dá um salto e chega com o carnaval e com aquele verão bombando, explodindo de calor. Aí você para e pensa: terminando fevereiro, março entro 'na ativa' e começo a comer melhor, a estudar para concursos, a me exercitar mais e dormir mais cedo.
Mas março não passa de um marco da irritação, das dificuldades das pessoas te respeitarem no teu espaço em casa e no trabalho, de gente amarga e doida para diminuir o teu açúcar. Você vai tolerando, tentando ser a mais gentil e educada das criaturas, mas a tarefa é difícil. Você está tão cansado, que até já acha engraçado o calundu do chefe, com direito a um "bom dia" entre os dentes.
Você viaja. Pega a estrada, um avião, ou até mesmo uma bicicleta e cai fora por uns dias. Dias intensos e felizes. Telefone desligado. Mensagens pouco importantes sem respostas. Você quer mesmo admirar o mar, sentir a areia nos pés, comer um belo e saboroso prato de comida e esquecer do relógio.
Spaghetti alle vongole. Foto: Andrea Giallanza
Projetos mentais vão surgindo e você já compreende mais que a cada dia de reclamação, é possível um passinho para a transformação. Entende que isso tudo é necessário e nesse caminhar contínuo as insatisfações aumentam, diminuem, aumentam, diminuem, aumentam... como num ciclo cansativo. E desse ciclo, o cansaço pode te impulsionar a fazer muitas coisas. E você pode até adiá-las por um tempo, mas esquecê-las: jamais!