Saudade é o indizível do corpo
Da saudade o que menos importa é o dizer. Quando se faz alarde de coisa assim, decerto é covardia, em não fazer o devido silêncio da falta que não se sentia. A saudade quando vem, não mantém acordo com dizeres: advém do corpo. Do sono que não chega ao destino do cansaço, do olhar zonzo e bambo caindo ensimesmado em horizontes distantes, do canto sombrio da noite que se faz escutado na espinha acendida. A legitimidade da saudade é reconhecida em um corpo inquieto e arredio – feito cavalo desassossegado –, em busca de dono que chegue: aconchegue. E quando não encontra, devora-se a si mesmo em consumação inefável. Saudade é o indizível do corpo.