Projeto em lisboa transforma idosos em grafiteiros
Terceira idade é considerada a idade ultrapassada. É a idade do descanso e do ócio quase que absoluto. São destacadas para essa idade atividades que não mexam muito com sua criatividade e que os façam acreditar que são incapazes de ambicionar fazer algo mais ousado. Com isso, os idosos frequentemente parecem estar desconectados do mundo presente. A juventude se distancia cada vez mais ideologicamente de seus antecessores por eles resistirem em aprender algo novo para que possam continuar a se lapidar junto ao mundo.
A verdade é que, talvez, lhes faltem oportunidades que os façam sentirem-se úteis e ativos novamente. O projeto luso 'Lata 65', criado pela arquiteta Lara Seixo Rodrigues, de 36 anos, vem mostrando que não há idade para arte, e que através dela as gerações mais velhas e mais jovens podem se conectar novamente de maneira leve e divertida.
"Costumo dizer que a lata de spray de tinta tem algo de mágico que não sei explicar. Todo mundo gosta de experimentar e o idoso não é exceção. Claramente o "Lata 65" se apresenta como um projeto de inclusão e integração deste grupo etário na própria cidade e os desperta para a arte na sua generalidade", disse Lara.
O projeto foi criado em 2012, quando Lara, que também é co-fundadora do WOOL (Festival de Arte Urbana da Covilhã, em Portugal), foi desafiada a fazer um workshop de arte urbana para a 3ª idade, visto que as pessoas que mais se mostravam curiosas e interessadas nesse tipo de arte em outros eventos eram os idosos. Nas oficinas que serão realizadas nos próximos meses, centenas de idosos já demonstraram interesse.
A organização oferece sprays, máscaras, luvas e todo o apoio para que eles soltem a imaginação e deixem tudo mais colorido. "O nosso desejo é que a 3º idade, à qual todos chegaremos, seja olhada de outra forma e exista investimento de qualidade. Há um dos depoimentos, que se repete sempre e é muito importante para mim, que é: 'hoje percebo aquilo que vejo pelas ruas'", concluiu Lara.
A arte contemporânea é a arte que abriga maiores possibilidades de liberdade de expressão em relação a arte dos períodos anteriores. O grafite é uma grande expressão dessa liberdade que iniciado nas ruas em 1970, tinha como maior objetivo falar sobre a opressão vivida pela humanidade, falar sobre a desigualdade e a realidade vivida nas ruas. Por muito tempo considerada arte marginal, o grafite conquistou o seu espaço pela violência das cores fortes e da imensa criatividade de variados povos com suas variadas culturas misturadas pela globalização. Ver essa arte ser apropriada por idosos é sinônimo de avanço cultural e ideológico. É a vitória das novas vozes ante as antigas. É o acordo de todos os tempos ao mesmo tempo. Viva a street art!