Uma história nem sempre encantada
Era uma vez, em um lugar não tão distante, uma criança. Além de não ser percebida socialmente como diferente dos adultos, trajava roupas parecidas a deles, frequentava os mesmos lugares e tinha as mesmas responsabilidades. O conhecimento sempre foi priorizado; entretanto, a maneira e o que se ensinava nunca a satisfaziam. Tudo era muito chato.
Um belo dia, uma linda fada madrinha surgiu e apresentou à criança as palavras encantadas. Junto com a leitura e a escrita veio o sabor da brincadeira que proporcionava caminhos bem diferentes dos já percorridos. A pureza da criança, juntamente com a alegria da descoberta, tocou o coração de alguns adultos que passaram a entender que ela tinha necessidades e características próprias. Iniciaram, assim, uma educação diferenciada que privilegiava a infância. A literatura foi apresentada não apenas como arte, mas como, também, possibilidade de compreender a realidade que por vezes causa tantos medos, ansiedades, traumas, conflitos, dúvidas e contradições.
Certa vez, os adultos e a criança caminhavam de mãos dadas pela floresta, quando de repente surgiu um monstro. A manipulação dele era tamanha que cegou os adultos, deixando a criança desprotegida e em suas mãos. Ele a trancou numa sala que tinha apenas uma porta e uma janela, várias cadeiras e um grandioso quadro preto. Todos os dias, mil palavras surgiam do quadro, porém sem o encantamento de antes. O que era mágico passou a ser trágico.
A criança cresceu. E a então adulta nunca mais foi feliz para sempre com as palavras.