Silêncio da lama
Na quarta-feira de cinzas o mangue é puro silêncio. A lama que cobriu corpos no bloco do sábado de carnaval está assim, assim. Placas de massa orgânica gelatinosa parecem mover-se lentamente. Muito lentamente.
O pouco de água que chega em poucas ondas faz ruído de creme.
No dia em que do lado de lá todos dormem suas ressacas, do lado de cá o mangue repousa. Silêncio de floresta, de vento. De mangue. Silêncio que força o cerrar dos olhos e o suspiro bem fundo. Silêncio que não quer voltar pra casa.
No canto da praia onde o mar vira lama, termina a caminhada em busca de não quero mais barulho. Não quero mais barulho interno.
Silêncio de vida microscópica. Vidinhas bem pequenininhas que regulam aquele vidão marinho.
Silêncio pra regular o áudio aqui de dentro, sem folia. .