O oceano no fim do caminho
O fim da história não é cor-de-rosa - não combinaria com a história em si, não combina com Gaiman e nem é o que esperamos durante a leitura – e dá aquela sensação de ser acordado de um sonho de repente; não no meio do sonho, não porque falte algo a ser contado nem porque ficou sem conclusão mas, sim, porque esse cara consegue transportar o leitor para dentro do seu universo com uma habilidade que só faz sentido mesmo quando comparado com sonhos.
Sandman. Pois é.
E não qualquer sonho, mas aqueles em que cores carregadas e sensações extrapoladas parecem ainda mais intensas do que elas são na vida real, aquele tipo de sonho que você acorda, fecha os olhos e tenta dormir de novo, para ver se a história prossegue.
E, assim como os sonhos não continuam, o livro também não dura para sempre; mas, se a história termina deixando essa sensação de que podia se estender e seria lida com a mesma vontade, isso é apenas sinal de que Gaiman conseguiu, de novo, criar mais um daqueles universos em que nós, fãs, mergulhamos de cabeça.
E, assim como esse texto, o livro começa – também – pelo final. (Mas é claro que Gaiman faz isso com toda a propriedade, enquanto eu...)
O livro é curto e dá prá ler num par de dias mas, talvez, você seja mais um daqueles que vão pegar gosto pela obra e vão ficar adiando por dias e dias o final da leitura.
Okey, acontece com os melhores leitores.
Em uma história que – ao menos na minha cabeça – ficava o tempo todo inteiro gritando CINEMA (sim, eu queria ver uma boa adaptação desse livro na telona), é fácil se perder em como a sua mente vai imaginando o tal lago/oceano no fim do caminho, como seriam as casas e as pessoas através desse tipo de descrição característica que o Gaiman costuma fazer e como um bom diretor levaria isso para um filme.
Não faço ideia de como estava a tradução mas, no caso desse cidadão ainda mais do que na maioria, sempre acho que vale a leitura do orignal; se for em ebook que tenha um dicionário embutido melhor ainda, porque certas passagens podem te deixar com certa cara de “que cacete de palavra é essa” e um dicionário à mão vai bem.
(Mas, sei lá, de repente você tem um TOEFL de 9 milhões e pode ignorar o dicionário…)
E mesmo que certas montagens linguísticas do Gaiman sejam intraduzíveis – mas essas notamos de longe, sejam em livros, quadrinho ou pixações - nada disso entra no caminho desses momentos em que ficamos imaginando as cores tão bem descritas ou o aroma exato da torta de maçã.
Um Gaiman que serve pra iniciantes, para fãs, para ser lido pela primeira com gosto e re-lido com calma, pra gente gostar ainda mais do que esse cara faz.