Os Parangolés de Oiticica
Uma bandeira que se movimenta com a dança do corpo, pedaço de pano multisensorial, estandarte que se utiliza de um corpo para sobrevivência, corpo que necessita de uma capa expressiva, performance e obra em forma de asa delta, isso tudo remete aos Parangolés de Hélio Oiticica.
sambistas da escola de samba Vai Vai (SP) usando parangoles
Hélio Oiticica (nascido no Rio de Janeiro, 26 de julho de 1937 — faleceu no Rio de Janeiro, 22 de março de 1980) foi um artista brasileiro que trouxe novas formas de expressão para a arte realizada no país, caracterizado pelo experimentalismo, o performático e a superação do padrão artístico burguês.
O artista Helio Oiticica, em foto de 1979 Foto: Arquivo O Globo
No ano de 1959, fundou o Grupo Neoconcreto, ao lado de artistas como Lygia Clark, Amilcar de Castro, Lygia Pape e Franz Weissmann. O Grupo Neoconcreto surgiu das dissidências presentes no movimento de arte concreta brasileira, o neoconcretismo criticaria o concretismo pela sua postura “dogmática” e desligada das causas sociais.
A criação do Parangolé surgiu na década de 60, através do contato que Oiticica teve com o samba e o seu ritmo contagiante. O samba para o artista era uma livre expressão, uma desinibição intelectual, “lucidez expressiva da imanência” como ele se referia.
Incorporo a revolta - Helio Oiticica
O Parangolé é uma espécie de capa que se veste, com textos, fotos, cores e que serve como uma Obra-ação-multisensorial. Referindo-se a sua obra Hélio Oiticica diz – “o objetivo é dar ao público a chance de deixar de ser público espectador, de fora, para participante na atividade criadora”.
O Parangolé é “anti-arte por excelência”, não se pode ir numa exposição de Parangolés, o espectador veste a obra e a obra ganha vida através dele, é capacidade de auto-criação, de expansão das sensações e rompimento.
Hélio Oiticica também foi responsável pela criação da palavra Tropicália – que se referia a uma de suas obras presentes na exposição Nova Objetividade Brasileira, em abril de 1967 – a partir desse momento a palavra seria utilizada por diversos artistas para referenciar o modo de fazer suas criações tropicalistas.
tropicalismo na obra do artista Albery
“Quando criei a minha obra-ambiente TROPICÁLIA(1966-67), duas coisas queria, de modo objetivo: uma era sintetizar tudo o que vinha fazendo há tempos no sentido se uma arte-ambiental(ou antiarte, como queiram), outra era marcar, com o conceito de tropicália, um novo modo objetivo de caracterizar certos elementos na manifestação atual da arte brasileira, que se possam erguer como figura autônoma, não-cosmopolita, opondo-se num novo modo ao Op e Pop internacionais (ver entrevistas no Jornal do Comércio, 21-5-67 e 16-7-67)” , nos diz Hélio.
Tropicália (Tropicália, Brasil, 2011). Marcelo Machado
Hélio Oiticica trouxe contribuições profundas à arte contemporânea brasileira, reinventando a figura do artista, permitindo um dilatamento das experiências artísticas do sujeito e a confiabilidade dada às novas linguagens. Referindo-se a construção dos Parangolés, o poeta carioca Waly Salomão fala que – “é o processo criativo total que é ativado impedindo o fetichismo coagulador da obra feita”.