O amor altruísta de Steven Spielberg
No dia 22 de dezembro de 1989, chegou aos cinemas o filme Além da Eternidade (Always), terceira parceria entre o diretor Steven Spielberg e o inspirado Richard Dreyfuss (ambos trabalharam juntos em Contatos Imediatos de Terceiro Grau – 1977 e Tubarão – 1975). A produção é uma refilmagem do clássico A Guy Named Joe, conhecido, por aqui, como Dois do Céu, datado do ano de 1943 e que fora dirigido por Victor Fleming. A premissa de ambos os longas seria a mesma: um piloto morre em trágico acidente, ascende aos céus e precisa retornar como uma espécie de anjo da guarda, para guiar um piloto inexperiente e se despedir do seu grande amor – amor esse, que acaba apaixonando-se pelo tal piloto.
Como era preciso que a grande parte dos remakes contemporizasse a história, o palco da Segunda Guerra Mundial foi substituído para um grupo de pilotos bombeiros, momento em que conhecemos Pete (Dreyfuss), arrojado piloto e de coração nobre, completamente apaixonado por Dorinda (Holly Hunter) e melhor amigo de Al (John Goodman). Todavia, após o trágico acidente que lhe tirou a vida, Pete encontra, no Céu, Hap (vivida pela icônica Audrey Hepburn, em seu último papel no cinema), quando ela explica a importância de retornar e espalhar o sopro divino, algo intangível, mas reconhecível aos sentimentos de todos como inspirações.
Hepburn como Hap - a felicidade como ensinamento
O roteiro escrito por Jerry Belson e comandado por Spielberg resulta em uma sinfonia de momentos tênues, líricos. Aceitar a dor da partida do grande amor e buscar conviver com isso. Deixar de lado crenças ou possíveis vieses religiosos, o ponto mais questionador apresentado no filme acaba por ser, justamente, a indagação sobre como seguir? Como abrir mão do grande amor e reconhecer a partida? Aceitar o seguimento da vida sem o pesar, sem o egoísmo presente, muitas vezes, nas vidas de tantos que enxergam o amor através de uma janela dominante?
Steven Spielberg soube dosar, exibindo maestria e sensibilidade, em cenas cabíveis e, ao mesmo tempo didáticas, que apresentavam formas e medidas para conduzirem o recomeço e delinear uma nova estória. Ainda assim, o filme trata sobre a redenção de Pete e o seu aprendizado sobre ser altruísta, pois amar é libertar também.
Spielberg ao lado de Holly Hunter
Em tempos onde reconhecemos a teoria do sociólogo polonês Zigymunt Bauman, sobre vivermos numa época de amores líquidos, disformes e descartáveis, dado tanto poder de escolha, Spielberg também dissertava, nos cinemas, sobre o amor ser uma escolha e não uma prisão, e é possível amar para sempre, mesmo após dizer adeus, na eternidade dos momentos inesquecíveis.