Aos meus heróis
The Fisher King (1991) - Dir. Terry Gilliam
Faz um bom tempo no qual a palavra e a poesia encontram dificuldades para ser aquilo que sempre estiveram destinadas a serem. Deferimos gestos acompanhados dos mesmos e pouco compreendemos, quanto aos seus significados, a magnitude, o torpor e a primazia das suas importâncias singulares e modificadoras nos comportamentos diários. Busca-se evolução, respeito e bom senso, mas, por vezes, absorvemos em troca o contrário de tudo, imersos nas próprias mazelas individuais, egoístas e negativas por si só, como quem procura a supremacia comportamental, filosófica, sentimental.
Não há nada de errado na disponibilidade de muitas escolhas e gostos. Na verdade, é necessário estarmos diante desse leque de possibilidades e sensações. Porque o que restaria de nós sem o vislumbre do poder da escolha? Como despertaríamos o criativo e expulsaríamos de dentro do coração tanto sentimento outrora incubado, refém do próprio medo de simplesmente tentar?
É tanta violência. É tanto desrespeito. É tanta mácula enraizada. O diferente tornou-se um artigo ilustrativo que se perdeu o lado ímpar. Bradar aos quatro ventos o desejo e a escolha do inventivo, do almejar fazer algo melhor, algo especial, ou simplesmente, para atender e reconhecer-se, ganhou ares de piegas, clichê e em alguns casos, até mesmo de sujo. Mas sujos somos nós, quando trancafiados nessa moeda de um lado só, evocando nada mais e nada menos que ser um, esquecendo que podemos ser dois, três e ainda assim, resultarmos em uma única unidade.
Palavra e poesia eu quero. Palavra e poesia eu preciso. A TV pode estar ligada. O mundo pode permanecer girando e as informações em fluxos cada vez mais intensos e desproporcionais, mas na ponta do lápis ou sobre as teclas do teclado, jaz um corpo presente, um coração cuidadosamente embriagado de palavras, e muitas poesias. Porque dentre tantas possibilidades de escolhas, mesmo na perda de algumas, estendo os braços para o maior número possível delas, incluindo o respeito pelo diferente que todos somos e que todos ainda deveríamos buscarmos ser.