O Quarto de Jack e a ruptura da dor
O Quarto de Jack (Room) é uma adaptação do livro homônimo escrito pela irlandesa Emma Donoghue, também responsável pelo script conduzido por seu conterrâneo, o ímpar Lenny Abrahamson. No filme, a prisão e a consequente liberdade de Joy (Brie Larson) e seu filho de cinco anos, Jack (Jacob Tremblay), que viviam em cativeiro num espaço mínimo, onde a imaginação era o único modo de fuga. O Quarto de Jack não enche os olhos pela beleza, mas sim por sua tristeza inimaginável. Mensurar a dor vivenciada através do tempo, e em como as personagens precisaram lidar com essa ruptura faz qualquer coração transbordar lágrimas sem fim. Porque não existe qualquer manual cabível para tratar dessa situação sem sentir.
Lenny Abrahamson soube conduzir magistralmente os sentimentos mais adversos e dolorosos possíveis numa produção repleta de lirismo e sensibilidade. E por falar em sensibilidade, a dupla de protagonistas teve de se vestir na forma mais legítima e emocional dos seus papéis em atuações eloquentes. Brie Laron e Jacob Tremblay encarnaram com tamanho louvor as suas respectivas personas que o espectador acaba imergindo na densidade dos diálogos e expressões desmedidamente, selando um elo raríssimo em termos de resposta para qualquer tipo de filme.
O cativeiro, a liberdade e o mundo real ganham proporções de dar nó na garganta porque a dor é palpável. Abrahamson vai mostrando aos poucos a aspereza da situação. Tentar manter-se afastado de sentir não é uma opção, principalmente ao reconhecer o poder onírico, mas presencial do pequeno Jack que, divertidamente em alguns momentos pontuais, traça a possibilidade de alguns sorrisos brotarem no caos sentimental até então absoluto.
Mas apesar do sofrimento contínuo durante a maior parte do tempo, a dor encontra o seu momento de ruptura. A resposta veio no amor e na sua incomparável energia vinda do imprevisível que é a vida e as relações humanas. Quando algumas palavras e gestos encontram a confiança e o conforto necessários para exprimirem o sabor desse sentimento, nada parece impossível. Não é nenhum absurdo e tampouco clichê reconhecer isso.
Dentre tantas obras pautadas naquilo que simplesmente queremos por ego, O Quarto de Jack é um retrato agridoce da vida, onde mesmo nas tragédias aleatórias o que prevalece é o sublime desejo de levantar e escolher recomeçar com amor e cumplicidade entre os seus.