Crônica de uma segunda-feira
Chovia.
Na esquina, sem guarda-chuva, enquanto esperava o semáforo abrir, viu um furgão bater no carro de uma jovem senhora. Entre olhares curiosos e buzinas, a motorista desferia repetidos golpes sobre o volante.
No metrô, encostado em uma das portas, ouviu um homem cantar “le it be”, acompanhado de um violão desafinado e um velho chapéu sem qualquer moeda.
Na saída da estação, acompanhou com olhos os passos de um senhor que, no contrafluxo, procurava o corrimão como apoio para subir as escadas.
Já na rua de casa, sentiu o perfume doce da moça com fones de ouvido que saía da padaria carregando pães, cigarros e sonhos.
À noite, no escuro, antes de dormir, lembrou de sua adolescência, das tardes de sábado sentado junto ao portão e teve certeza que, em certos dias, vive-se tanto que chega a doer.