O machismo sob nova roupagem
A maternidade é um dos momentos mais desejados. Para muitas mulheres é a coisa mais importante de suas vidas. E não há dúvidas de quanto é especial gerar um ser humano e prepará-lo para o mundo. Como comparar qualquer coisa a esse amor? Sim, é impossível. O problema é quando isso se torna a única coisa da vida. A mulher, profissional, amante, deixam de existir para assumir o papel de mãe 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Hoje é fácil perceber quando isso acontece sem nem mesmo conhecermos a pessoa. Como um espelho da nossa realidade, as redes sociais estão cheias de mães que se anularam para viver a vida de seus filhos. Algumas chegam a mudar a foto do perfil para uma com a criança, ou da criança sozinha. Pode não parecer importante, mas é emblemático. É como se estivéssemos dizendo ao mundo, "esse não é o perfil da fulana, é o perfil da mãe do fulaninho". Freud explica, ou explicaria, se fosse contemporâneo ao Facebook.
É perfeitamente compreensível que quando temos um filho fiquemos enamorados dele. Como uma nova paixão mesmo. E quando isso acontece nos reclusamos um pouco do mundo para curtir ao máximo aquele momento. Mas aí é que está, é um momento. E a vida toda da mulher a partir da maternidade, como fica?
É claro que isso também pode acontecer com os homens, mas se ocorre a um número muito maior de mulheres é porque ainda carregamos a pecha do machismo que diz que nós é que devemos abrir mão da nossa vida para cuidar dos rebentos.
Tenho amigas que não fazem outra coisa a não ser acompanhar seus filhos a programas infantis. Não tiveram um só final de semana para elas desde que se tornaram mães. É parquinho, festa de criança, teatrinho, cinema. A TV de casa ligada 24h (ou enquanto os reizinhos estiverem acordados) no canal de desenho. Nunca mais foram ao cinema ou ao teatro para ver alguma coisa que elas realmente queriam. É claro que fazer programa de criança também é uma delícia! Que pai ou mãe não curte uma boa farra com o filho? Mas é preciso bom senso.
Reparo também que esse é um fenômeno de classe. Quanto mais alta, mais a tirania infantil fica evidente. Minhas amigas-mães com menos dinheiro se divertem muito mais. Elas carregam a prole para programas comuns (sem o rótulo infantil) e quando as crianças se cansam, não têm problema. É só juntar umas cadeiras e acomodar o pimpolho para dormir ali mesmo, enquanto ela curte um pouco mais o SEU programa. Afinal, ela também tem direito. E nenhuma criança morrerá por causa disso. Pelo contrário, elas são tratadas com o mesmo amor e aprendem desde pequenas a respeitar o outro, a compreender que o mundo não gira em torno delas. E isso será fundamental para suas vidas quando adultas.
A maternidade é algo lindo e único. Mas a vida da gente é o nosso bem mais precioso. Viver a nossa vida com autoestima e sem qualquer dependência, seja por um ser humano adulto ou uma criança, é o melhor ensinamento que podemos deixar para nossos filhos.