Devaneios modernos (e irresponsáveis) de um fevereiro qualquer
De acordo com Antônio Cândido e J. Aderaldo Castello, o Modernismo abrange um movimento, uma estética e um período. O objetivo principal dos participantes desse movimento, que teve seu “boom” na Semana de Arte Moderna de 1922, era romper com as tendências Simbolistas, Parnasianistas e Naturalistas. Ou seja, a palavra de ordem era renovação, e esta seria feita através: (1) da negação das influências estrangeiras, as quais, segundo os autores da época, domesticavam nosso pensamento; (2) da experimentação de uma nova linguagem; (3) da ruptura com a sintaxe, com a métrica, com o academicismo e, sobretudo, (4) através da criação de uma literatura genuinamente brasileira, de exportação.
Para Mário de Andrade e Ronald de Carvalho, a maior contribuição desse movimento foi a liberdade de criação e expressão. “Cria o teu ritmo livremente”, disse o poeta. Mas isso nada mais era que uma reflexão profunda, um juízo de valor sobre a realidade brasileira. A bem da verdade, a primeira geração – da fase heroica – instituiu uma tentativa de “anarquismo”, os poetas não sabiam discernir o que queriam, mas sabiam aquilo que não queriam. É relevante atentarmos para o fato de que todo esse espírito revolucionário, todo esse desbunde possuía, durante o período (de 1922 até 1930) um tom “infantil”, faltava engajamento e seriedade na obra, passo que seria “corrigido” por uma literatura mais “madura” e estável da segunda geração. Não podemos desconsiderar, entretanto, o valor dos primeiros autores, uma vez que eles deram o ponto de partida ao movimento modernista.
Embora possuíssem o mesmo desejo – atualidade, exprimir a vida diária, retratar os fatos da sociedade, modernidade, etc – as duas primeiras gerações modernistas apresentavam diferenças marcantes. Enquanto a primeira era bem irônica, produzia poema-piada e, como já foi dito anteriormente, não dotava de muita responsabilidade, a segunda, que data de 1930 até 1945, foi o momento de estabilidade, de consolidação das vitórias dos antecessores. Era “hora de arrumar a casa”, pois “a brincadeira tinha acabado”.
O aprofundamento das conquistas da geração de 1922 veio junto com uma literatura mais objetiva e engajada. Os poetas passaram a questionar a função da arte, principalmente da literatura, que era tida para eles como um viés para modificar o Brasil. Houve inovação de temas, uma vez que os autores trabalhavam com as questões locais buscando uma expressão poética de ressonância universal. Em decorrência dessa tentativa de explorar e interpretar o “estar no mundo”, encontramos, nesse período, obras mais construtivas e politizadas.
Especificamente em relação à poesia, ela foi o gênero literário que sofreu transformações mais rapidamente. O abandono das formas consagradas, dos sonetos, a utilização dos versos livres, etc. Segundo um crítico inglês citado por Alfredo Bosi, a poesia moderna pode ser caracterizada resumidamente em: condensação, simultaneidade, imagens vívidas e fusão de elementos diversos.
Mesmo despertando a ira de alguns críticos e a profunda admiração de outros, o indiscutível é que nenhum outro período da literatura brasileira reflete tão fielmente e com tanta liberdade os “movimentos da alma nacional”, pois ele aponta, discute, critica e sugere soluções para os problemas do país.