O demônio das horas incertas
“A depressão é a imperfeição no amor. Para podermos amar, temos que ser criaturas capazes de se desesperar ante as perdas, e a depressão é o mecanismo desse desespero. Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afeição.” Andrew Solomon.
Assim se inicia o livro O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, que aborda de forma visceral a depressão, este demônio paralisante que adormece sonhos e desejos. Seu livro, de uma escrita profunda e sensível, repele o preconceito sobre essa doença que assombra tantas almas.
O demônio do meio-dia foi uma expressão utilizada na idade média e estava relacionada ao sentimento da acídia, tão bem relatada por São Tomas de Aquino: “Assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer, assim fazem muitas coisas por causa da tristeza para evitá-las ou arrastados pelo peso da tristeza”
Edvard MUNCH, "Night in Saint-Cloud", 1890
A depressão é um amputar de asas; o corpo exala tristeza, uma tristeza quieta e solitária. O olhar abandona o céu e fixa-se no asfalto negro; concentra-se na distância e nada faz sentido razoável para que se queira tentar.
A depressão retira aos poucos as significâncias da vida. Não é fácil especificar a causa da depressão, aparentemente, algumas pessoas estariam mais vulneráveis, quimicamente, a sofrer desse mal.
Conviver com uma pessoa que sofre de depressão é, de certa forma, emprestar-lhe um pouco a vida; é fazer uma respiração boca a boca de amor; uma respiração constante, esperançosa e delicada. Neste empréstimo de dedicação e de amor saem todos mais plenos; não há nada nessa vida que não se torne inteiro depois de compartilhado.