Sal
Ninguém começa um relacionamento pretendendo terminar; pretende-se muitas coisas menos que o que parece carregar em si diversos significados perca-se em seus próprios significados. É simples abafar o significado, basta esquecer as significâncias das coisas pequenas. É rápido perder o constituído, basta abafá-lo na tentativa burra de fazer existir não o que é, mas o que nos ensinam que deveria ser.
Quando se começa a amar alguém nasce em nós e para nós um novo amor, e o carinho que oferecemos é um afago íntimo, particular a nós mesmos. Por isso quando amamos esse amor é livre dos discursos conhecidos e podemos ser livres no sexo e na falta de vontade de se fazer sexo, porque amar está além do corpo.
Amar está no sanduíche preparado em conjunto, no estímulo quando tudo parece falhar, na crença renascida quando há pouco a acreditar, no abraço noturno quando o desassossego é muito maior do que o sono; nas gargalhadas livres, no rosto lavado, na vista cansada, na celulite assumida.
No amor não cabe a paixão egoísta, o pronome singular conjugado de forma autoritária. No amor não cabe ser solitário cabe apenas a solidão necessária ao renascimento. No amor não cabe uma cidadela construída em silêncio, posto que no amor é permitido fraquezas, incertezas e também algumas certezas.
No amor não cabe apenas um mundo, mas tantos quanto o outro puder trazer; amar é poder ir além, porque quando se está amando, o conjunto de todas as coisas que existem ou que se crê existirem são possíveis.