O Retorno ao Útero Materno
De tempos em tempos devíamos retornar ao útero materno. Há tempos em que, como no momento do nosso nascimento, o ar nos pesa, nos sufoca, como nos faltasse. Nos faz chorar como a criança que pela primeira vez sente a pressão do ar a tocar a pele e invadir seu corpo pelas narinas destreinadas.
De tempos em tempos o mundo parece a nós estranho, tudo parece fora do lugar, falta-nos o chão e asas para voar. Tudo nos apavora: a ânsia do futuro, a angústia do presente, o medo do passado, de perdê-lo, condenado ao esquecimento. Mas como a criança, nem ao menos nos damos conta disso, atormenta-nos nossa própria sombra, testemunha da nossa existência.
De tempos em tempos falha-nos a memória, confundem-nos as lembranças, pulsa mais forte o coração abatido, foge do corpo que já não o suporta, padece o corpo, pálido. Põem-nos loucos a mente, tomada pelo caos da desordem dos pensamentos, sem sentidos, aleatórios. A saudade aflige-nos, ansiamos voltar ao sítio do nosso conforto, do nosso afeto.