As diferentes faces de Liniers
Foi lendo Mafalda, Tintin e Asterix que o quadrinista Ricardo Liners, de 39 anos, se inspirou para criar seus próprios quadrinhos. E assim como Mafalda, do também argentino Quino, fez grande sucesso, os personagens de Liniers conquistaram muitos fãs.
Em seus quadrinhos, Liniers fala sobre tudo. Sobre o cotidiano, sobre as relações humanas, sobre amor e ainda aproveita para fazer críticas à política, à mídia, ao consumismo e outros problemas sociais. E o mais interessante é que ele não tem apenas um personagem marcante, ele criou vários, justamente para poder brincar com diferentes tipos de humor. Seus desenhos funcionam como uma espécie de diário pessoal, onde retrata todos os seus pensamentos, gostos e sonhos.
Um dos personagens mais famosos e interessantes é a menina Enriqueta e seu amigo gato Fellini. Ela é apaixonada por livros e ele é seu fiel companheiro. Eles são os mais questionadores e profundos, juntos os dois filosofam sobre a vida e nos cativam com sua imaginação e alegria de viver. São diálogos inteligentes sobre as coisas simples que nós deixamos de valorizar no dia a dia.
Liniers também se retratou em desenho, e o personagem considerado seu alterego é o coelho de orelhas grandes. Segundo ele, se desenhar como coelho o faz sentir mais livre, é como se ele estivesse fantasiado e tivesse mais liberdade para dizer e fazer tudo o que tem vontade.
Seu trabalho mais recente se chama Macanudo e já tem várias edições, as tirinhas são publicadas no jornal Lá Nación, de Buenos Aires, desde 2002. No Brasil, o artista ganhou popularidade pela internet e posteriormente seus trabalhos foram publicados no jornal Folha de São Paulo. Já os livros, chegaram às livrarias em 2008 e em 2012, ganhou uma exposição chamada Macanudismo na Caixa Cultural em alguns Estados brasileiros. A palavra Macanudo significa algo bacana, legal ou extraordinário e é como ele se refere carinhosamente a seus personagens.
Suas influências vão além do mundo dos quadrinhos, Liniers também se inspira nos cineastas Woody Allen e Charles Chaplin, no cantor Bob Dylan, nos escritores Stephen King e John Steinbeck, na série de comédia nonsense Monty Phyton, entre outros. E podemos ver essa influência em muitas de suas tirinhas em que ele faz referências a livros, filmes, músicas, ícones da cultura pop, etc.
Liniers ganhou um documentário chamado Liniers, El Trazo Simple de las Cosas feito pela documentarista Franca González. Os dois se conheceram quando moraram juntos em Montreal, no Canadá e se tornaram grandes amigos. Além de Macanudo, ele tem vários outros trabalhos como o infantil Que Hay Antes de que Haya Algo, Conejo de Viaje, Cuadernos, Bonjour, entre outros.
Se em todos os tipos de arte os artistas colocam um pouco de si nas obras, Liniers se coloca por inteiro em seus desenhos. Cada personagem é um pedacinho dele e todos representam seus comentários sobre a sociedade e sobre a existência humana. Tudo com um humor refinado e uma dose simpática de melancolia, uma verdadeira poesia em forma de quadrinhos.
Sem querer, Liniers se definiu melhor do que qualquer outra pessoa poderia defini-lo. Um ser totalmente macanudo.
Sua página oficial está expirada, mas as tirinhas podem ser conferidas no site do jornal La Nación, em seu blog pessoal e na sua página no facebook.