Todo mundo ama as cores de Wes Anderson
Moonrise Kingdom (2012) - wesandersonpalettes.tumblr.com
Embora a cor seja um fenômeno extremamente subjetivo, certas influências no estado psicológico são generalizadas em nós. Nos sentimos calmos com azul, empolgados com o vermelho, confiantes com o amarelo, e das cores primárias vamos para as misturas de significados das cores em nosso estado de espírito. Em algumas situações na vida, na publicidade, na arte, não sabemos as intenções nas cores, apenas sentimos.
Mas nem sempre o cinema gostou de usar as cores para expor significados de forma silenciosa. Desde quase a sua origem elas estavam lá, o cinema sendo colorido a mão com os fotogramas no positivo preto e branco. Trabalhoso e criticado.
Muitos cineastas no século passado acreditavam que a cor prejudicava a narrativa cinematográfica, poderia sobrepor a percepção dos eventos e camuflar o que realmente era importante, o argumento narrativo. Por isso, o estilo deve fazer parte da substância - isso em qualquer época. Esse é um ótimo descritivo para o cineasta Wes Anderson, nada é por acaso e tudo é composição em sua obra. Não é só cor, só trilha, só referência ou posicionamento de câmera. É estilo próprio.
Em entrevista concedida em 1966, o cineasta russo Andrei Tarkovsky declarava o seu medo à cor: "No momento eu creio que o filme colorido não é nada mais do que um truque comercial”. Com o tempo aderiu a cor em seus filmes, mas com grande rigor.
A dramaticidade do preto e branco realmente é algo magnífico aos olhos, o domínio da luz é essencial. Ingmar Bergman em seu filme Juventude (Sommarlek), de 1951, cria uma atmosfera com base somente na luz com preto e branco. Um dos seus primeiros filmes, e um dos mais lindos na fotografia. Essa cena não lembra Moonrise Kingdom?
Como referência, vale lembrar de Jean-Luc Godard, com o filme Weekend, de 1967, e a semelhança na estética de Anderson - já nas cores.
Diferente do que pensavam no início da criação do cinema, que a cor poderia roubar a atenção dos espectadores do enredo e da interpretação dos atores, Anderson vem para nos provar que a cor é um elemento narrativo fundamental que integra outros na ação de seus filmes. Para transpor seus significados, os personagens de Anderson possuem personalidades pelas cores, os cenários em que são introduzidos, unidos à fotografia, nos fazem sentir a construção de um universo com peculiaridades e piadas visuais próprias.
É claro que a cor é apenas um dos traços da excentricidade do cineasta estadunidense. Recentemente um trabalho de Kogonada, uni a simetria perfeita em que Anderson executa seus filmes. Na verdade é um exercício no estudo da relação entre cor, fotografia, cenografia, design e produção.
Wes Anderson // Centered from kogonada on Vimeo.
Do argumento fantasioso, da angústia como ponto inicial da trama, a direção de arte e fotografia nos levam, em muitos dos filmes de Wes Anderson, para os anos 60 e 70. A estética vintage nas cores saturadas, são as que falam. Com menos palavras e mais imagens, na atualidade temos Spike Jonze e Michel Gondry parecidos em estética e liberdade nonsense.
Para comparar melhor, segue um documentário de Paul Waters:
Wes Anderson: A Mini Documentary from Paul Waters - BEC on Vimeo.
Difícil cansar de sua magnitude estética.