Rudderless: O caminho de volta começa com um acorde
Primeiramente, em parênteses, quero deixar claro que não procurei logo esse filme simplesmente porque não sabia de sua existência. Alertado por um amigo com nome de artista (Djavan, amante da música e do cinema assim como eu), meu fim de ano não poderia ter sido em melhor companhia.
O filme conta a história de Sam (Billy Crudup), que após um sucesso no trabalho, liga para o filho Josh (Miles Heizer), um jovem universitário que gasta suas horas compondo e gravando suas composições. O furo no encontro é interrompido por uma notícia na TV, que mostra um tiroteio na universidade, onde seu filho se encontrava entre as vítimas. Abalado, Sam não consegue mais retomar sua rotina e após dois anos do ocorrido, se vê morando em um barco e trabalhando como pintor em uma casa. A trama começa quando a Mãe de Josh, Emily (Felicita Huffman) entrega a Sam algumas coisas deixadas por Josh, entre elas suas gravações. Sam as escuta e decide tocá-las, mas é ouvido por Quentin (Anton Yelchin), que insiste para tocar as musicas que pensa ele que são de Sam. A partir dai eles montam uma banda (o nome da banda é Rudderless). O final é realmente surpreendente, vale a pena conferir.
Rudderless poderia ser sim mais um clichê daqueles que enjoam após meia hora passadas da trama. E ainda mais por se tratar de assuntos tão complicados, entre eles as relações conturbadas entre pais e filhos. Mas, o filme mostra um outro modo de enxergar a superação do pai, que resolve memorar seu filho tocando suas canções e, deste modo, passa a conhecê-lo melhor, a conhecer sua vida antes do acontecido. Contudo, o filme possui um tom humorístico, fazendo com que o espectador se divirta e reflita ao mesmo tempo, mesmo tratando de temas sérios. Willian H. Macy (que também atua no filme como o dono do bar), em seu primeiro longa como diretor, acertou.
Billy Crudup, Selena Gomez e William H. Macy em entrevista ao festival Sundance
Dois pontos fortes do filme, os quais gostaria de destacar: as atuações de Crudup e Yelchin, bem consistentes e convincentes. Nesse mesmo segmento, destaque para Selena Gomez que, no papel da namorada de Josh, foi fundamental para o desfecho da trama. Laurence Fishburne (Matrix, quem diria?) também fez uma excelente atuação como o dono da loja de instrumentos musicais. Aliás, esse é o segundo ponto forte do filme, sua trilha sonora excepcional. As letras nos fazem mergulhar no universo de Josh e se explicam por si mesmas. Além do mais, quando Sam as interpreta, trazem consigo outra visão/versão do protagonista, como se ele incorporasse também seu filho. Destaque para as canções Home, Real Friends e Sing Along .
Rudderless foi concebido com a "merreca" de apenas US$ 2 milhões, e foi gravado em apenas 25 dias, no Estado do Oklahoma, EUA. Macy disse que para um viajante inexperiente, o maior desafio foi ficar dentro do orçamento e mostrar na trama toda sua musicalidade. Lembrando que a maioria dos vencedores do Sundance Festival foram grandes vencedores dos Oscares por aí afora, como Pequena Miss Sunshine (2006) e Indomável Sonhadora (2012). Além disso, grandes estúdios observam os filmes independentes nesse festival para comprar seus direitos, como foi o caso do filme Whiplash, comprado pela Sony por US$ 3 milhões.
Enfim, Rudderless é um filme daqueles que você tem que rever pelo menos três ou quatro vezes, pois o conjunto da obra realmente é tocante do inicio ao fim. Realmente, Macy tem um próspero futuro pela frente, pois seu grande pontapé atingiu em cheio minha alma. Quem ver, verá o que eu estou dizendo. Só sei de uma coisa: o caminho de volta começa com um simples acorde. Acorde.
Namastê