O blues de Willie Walker
A banda estava lá formada por músicos exímios em um festival de blues internacional em uma cidade praiana brasileira; um guitarrista que exagerava em seus solos, no volume deles e em sua performance, formava um quarteto com baixo, bateria e piano, sim não era teclado, era um hammond muito bem executado por sinal. Ah e diga-se de passagem, nada de errado com os excessos do guitarrista, afinal aprendemos que quanto mais melhor, quanto mais exagerado no palco mais artístico você se torna, mais é notado. Se só houvesse a apresentação da banda eu sairia com uma sensação de: "esses caras tocam muito". Mas isso nada me remeteria ao novo e ao imprevisível. E não tem presente maior do que ir a um show e ir embora com a impressão que visitou outro país, sentiu outros cheiros e conheceu outros sabores.
Muito bem, depois de 4 músicas instrumentais tocadas entra ele, muso inspirador desse texto; um senhor negro de baixa estatura, com um boné e uma camisa de cetim com o crachá de identificação do evento pendurdado no pescoço, escrito: "músico". E foi exatamente assim que ele se mostrou, um cantor que é acima de tudo músico, que faz música e não exibicionismo. Entrou olhando para baixo, meio acanhado com um riso tímido e abriu a boca! E foi a partir desse momento que o meu devaneio começou. Percorri cada nota que esse homem entoava, como se estivesse dentro do seu canto. E cada movimento desse senhor era preciso, em todos os sentidos da palavra. Foi preciso e era preciso ao levantar a mão, foi preciso e era preciso no momento em que se aproximou do público e disse : "You're beautiful".
De olhos fechados ele cantou clássicos do blues, de uma maneira que nunca tinha ouvido alguém cantar. A escolha do repertório foi outro ponto certeiro, de músicas lentas às mais agitadas. Ele abaixava a voz em uma dinâmica perfeita. A lógica clichê do menos é mais ficou clara ali. Ficou evidente que o crachá no pescoço, o jeito tímido e o boné não esconderam tudo que Willie Walker tinha para comunicar por meio do seu timbre, do seu jeito de cantar uma música já conhecida e o respeito com a música e com os ouvidos de quem o ouvia. Eu chorei enquanto dançava muito, o som de sua voz me libertava e falava diretamente com a minha alma. Quando cheguei em casa, uma das primeiras coisas que fiz foi procurar o timbre masculino mais incrível que já tinha ouvido ao vivo, para a minha surpresa não havia muito sobre ele. Mas com toda a certeza Willie Walker vai falar muito mais através do seu canto por onde passar, do que através da internet.