sobre o sentimento do mundo
Quando o mundo deixa de ser mundo é que a gente passa a sentir o mundo. É lógico, tá na cara: a dor, por exemplo. A dor é um gatilho claro pra se sentir o mundo. O que dói, e que antes não doía, agora é importante e só vai deixar de ser quando parar de doer. É matemático - lógico. Se caí e quebrei o braço, esse braço vai ganhar o dobro da minha atenção durante os próximos dois, três meses e, depois disso, vai ser só mais um braço. E não para por aí. Se eu quebrar o outro, aquele primeiro vai ter que fazer o trabalho dele e do quebrado e, pior ainda, sem a mínima atenção de quem controla. Assim se segue a rotina do corpo - um membro deixa de ser membro e, justamente por isso, acaba sendo visto como membro. A dor, se vê, é uma maneira simples e direta de se sentir o mundo. Até porque a dor é engraçada. Parece feita exatamente pra se medir o que importa. Se dói, se sente. Se dói, com certeza - de uma ou de outra maneira -, a gente sabe que vale.