Carlita, a Venezuela - 15/04/2013
Publicado no blog da Palavraria
Carlita,
Hoje eu não trabalhei.
Passei o pouco tempo que me sobrava da semana passada tentando sacar qual era a desse país (tão aparentemente vermelho) em épocas de eleição. E te digo de antemão: não saquei. Os jornais daqui ilustravam as “atitudes” de campanha dos candidatos com a tinta da tensão venezuelana. Os daí mal liam os daqui e já espalhavam as boas e velhas notícias que toda direita ou toda esquerda gosta de ouvir. Tanto faz. Aqui ou aí, a gente sabe, tem gente de todo lado. E lado é o que não falta aqui. Os únicos dois que polarizam tudo que é vivo e morto nessas ruas de muita (e muita) poeira são suficientemente grandes e acolhedores. Repito: é lado pra mais de metro.
Quando cheguei, há quase dois meses, me diziam:
- De que lado tu tá?
- Não tenho lado nenhum. Sou brasileiro. Tô só observando! – eu falava, inocente.
- Como assim? Na Venezuela, a gente tem que ter lado. – todos respondiam (claro, os que respondiam).
Adivinha… Lógico! Tomei um lado. Ou melhor: um lado me tomou. É assim. A relação entre mim e tal lado – como é a do venezuelano e o seu – é passional, quase carnal. E dessa maneira (e de outras ainda mais passionais) é que acontece a campanha, a conquista do voto, a paquera eleitoral. E que paquera! Deu três dias antes da eleição e eu já gritava o nome do candidato da oposição, cruzava os dedos durante os discursos televisivos e dizia, com orgulho, que era um brasileiro venezuelano.
Ontem, no nervoso e dividido domingo de votação, o venezuelano era um brasileiro em final de novela: vibrava com qualquer fofoca, gritava forte e ofensivo pelas janelas, batia frigideira e panela pela demora dos resultados – e só isso já era um resultado. E faziam festa também! Carros e casas não dispensavam a manifestação do voto através das músicas e gritos de apoio ao candidato que defendem (quase como a própria vida). E assim se seguiu antes, durante e depois dos resultados.
Passado o pequeno susto (de incredulidade, para alguns; de alívio, para outros), a farra toda mudou de foco, mas – querendo ou não – ainda era farra.
Hoje, como te disse, eu não trabalhei. Nem tinha como, convenhamos. O povo venezuelano, e agora eu, é como um chiclete de carne – e ontem a gente cansou de ser mascado.
Espero, sinceramente, que amanhã eu possa trabalhar. Ou não.
Um abraço gordo e bem apertado do outro LADO da nossa américa.
Lucas