se eu fosse mulher...
Se um dia, por um acaso de um destino transviado da vida, por um erro de sorte ou um acerto único do azar, eu nascesse mulher, ah!, eu controlaria meio mundo, e descontrolaria toda a outra metade. Poria todos os homens (dos nanicos aos grandalhões) debaixo do meu sapato de salto e os faria rolar; e rolando eles terminariam embaixo da minha cama – consertando um de seus pés quebrados. Embaixo da cama, não em cima. Embaixo. E aos meus pés e aos pés da cama, eles me implorariam pelo menor dos menores beijos. E eu não daria. Me faria fria – mulher difícil. E se fossem embora, reclamando (com razão) que eu não dei nada – nem carinho, nem beijo, nem nada -, eu faria o esforço de me levantar da cama, me olhar no pequeno espelho do banheiro e dizer com um sorriso largo no rosto:
- Puta que pariu! Eu curto ser mulher…
E quando voltasse pra cama – vazia de gente, mas cheia de pelúcia – sem ninguém no pé, sem ninguém no meu pé; eu esqueceria o espelho de minutos atrás e encararia com melancólica curiosidade o branco escuro e debochado que o meu teto haveria de ter.