Limiar
imagem da internet
Ando muito estranha pra quem está vivo, sentindo coisas absurdas pra quem 'tá" com pressa;
Desejos recônditos; obras nem começadas; flores arrancadas do meu jardim (jardim que não tenho - melhor esclarecer). Sou digno de mim? (já pensei que não, muitas vezes)
Que sabor tem a minha voz?
Olhem pela porta: eu tô aqui ! Exatamente aqui, mas não sei definir esse lugar. Esse "aqui". Mas aqui estou despida de juras e paixões e de altar; sem espinhos. Sou toda macia com rugas humanas de tanto não ter.
Estranhamente louca, hoje, eu quis transcender. Mas passa porque como tudo que não faz sentido, o dia tem limites pra estar claro e a noite não tem razão para existir já que o sol nunca se apaga.
Mas, olha só minha máscara. Ela me apresenta com uma idade feliz e muita simpatia. Não deixa transparecer minha sintonia com o desprazer de ser e não estar e ter que parecer que é.
Ah...se eu tivesse um jardim... Ou talvez qualquer coisa pra chamar de meu, para que a estranheza que sinto no espelho não seja mais um traço que me force lembranças cinzas. Ele não mostra minha transparência santa nem essa minha arrogância de não ser nada e ainda assim querer existir.
Relaxem os espasmos.
Talvez tudo isso seja só cansaço. Creio que é o cansaço mesmo que dá frutos confusos na hora de pensar. Mas faz parte de quem sempre fica calado pra não assustar os leões. Esse é o tipo que sabe que ninguém subirá por seus cabelos pois eles não crescem pra se comparar à altura do céu.