Os artistas são uns voyeurs!
(Hopper- Night Windows, 1928)
(Arne Svenson, "The Neighbors", 2012
A polémica estalou quando Arne Svensou exibiu o fruto do seu trabalho ao público. Teve um sucesso enorme, evidentemente, não só pela enorme qualidade da sua obra, mas porque alimenta o voyeurismo de todos nós. Ele usou a sua teleobjectiva para fotografar os seus vizinhos em poses de relax, rotina doméstica, sem que eles se apercebessem. Porquê tanta polémica se isso é uma prática comum na street photography, ou fotografia de rua?
Dizem as estatísticas que há maior probabilidade de acidentes de viação na altura em que estamos prestes a chegar a casa do trabalho, porque a perspectiva de estarmos quase a podermos refugiar-nos no nosso canto e abrigo abranda a nossa vigilância. "A nossa casa é o nosso castelo", é uma expressão quase sagrada que vem dos tempos em que as vilas e cidades rodeavam o castelo senhorial e fortificado e se protegiam dentro das suas muralhas. É suposto a nossa casa ser o refúgio em que podemos abandonar a máscara da Persona social e sermos nós próprios.
Isso inclui relaxarmos no sofá, colocar uma roupa confortável, descalçar os sapatos, limpar as fossas nasais, agarrarmo-nos ao nosso ursinho de peluche favorito... Enfim, na nossa casa sentimos que estamos protegidos da intrusão exterior.
Mas os vizinhos de Arne Svenson não gostaram e protestaram quanto ao que consideraram uma abusiva invasão de privacidade. Apesar de o fotógrafo nunca mostrar os rostos dos fotografados e não identificar ninguém, debateu-se o direito à privacidade e à imagem. Melhor publicidade não poderia ter tido Arne... Afinal, os prédios de Manhattan não são castelos, têm grandes janelas envidraçadas e as cortinas estavam bem abertas. O sol entrava por elas e iluminava bem o interior para quem estava cá fora. Nada de chocante é realmente mostrado nas fotografias e o que se vê é apenas a humanidade de simples cidadãos, habitantes anónimos de grandes cidades. Confira aqui:
Todavia, o pintor Edward Hopper, que também mostrou figuras anónimas imersas no seu quotidiano, indiferentes ou inconscientes da atenção do artista, em vez de polémica é aclamado pela sua visão humana sobre o indivíduo na sociedade moderna. Eis aqui algumas das suas obras:
É então, afinal, um artista, um simples voyeur? No sentido em que observa, espreita, documenta o comportamento humano inserido na sociedade, no campo ou num meio urbano? E se o é, e se assim tem êxito e notoriedade, não será porque há todo um público que aprecia ver essas imagens e quadros? Seremos então, todos nós, um pouco voyeurs...
Ou é esse afinal o propósito da arte, o de esconder o autor e mostrar a obra - como já sugeria Oscar Wilde -, ser a expressão dos tempos na vida do artista que está atento ao que o rodeia e disso mostra a sua interpretação ao mundo?
Será por acaso que estes artistas (e muitos outros, poderia citar Vermeer, por exemplo, que também revelou ambientes intimistas e privados), apresentam obras, distintas na forma, mas tão semelhantes na mensagem e no conteúdo?
É um artista um voyeur? Ou, apenas, um ser humano que se identifica com os seus semelhantes? Quem, de entre nós, não se identifica com as seguintes imagens, que a seguir apresento, alternando entre Arne Svenson e Edwardo Hopper?
(Edward Hopper)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Arne Svenson)
(Arne Svenson)
(Arne Svenson)
(Arne Svenson)
(Edward Hopper)
(Edward Hopper)
(Edward Hopper)
Afinal esta é a sociedade em que vivemos, o pintor viu a solidão inerente ao quotidiano, o fotógrafo observou e deixa ao expectador a interpretação destas vidas decorridas entre quatro paredes.
Privacidade? Há ainda isso, nos dias que correm? Podemos sempre correr as cortinas...
Mas, se realmente dão mesmo valor à vossa privacidade e pretendem viver fora dum mundo em que já nada é privado e, para além disso, nem sequer há estranheza ou tabus na exposição do quotidiano das pessoas, segue uma sugestão: