E quando for se despedir... leve somente a si mesmo consigo
Quem supera tudo mais rapidamente muitas vezes já se despedia há meses ou anos, e o outro não percebia. Quem supera tudo antes já olhava antes ao longe, esperando um futuro melhor; olhava para dentro de si mais detidamente, vislumbrando outros ares; olhava para o outro com amargor, mas o outro não percebia - ou não queria ver.
O outro, aquele que demorou a perceber, ou que percebeu tarde demais, costuma prender-se a inseguranças, próprias ou alheias; costuma negar que elas possam ser inevitáveis, e que o rompimento seja a única saída; costuma evitar aceitar o fato, e mesmo quando o aceita, chora sem parar achando que possa haver algum retorno - que não há.
Por isso, tanto para um, quanto para o outro, a saída é soltar as amarras; jogar a âncora fora; esquecer as lembranças; lamentar na hora certa, para depois abandonar; em suma, deixar que o tempo leve tudo consigo. Deixar que o abandono fique para trás, e que as esperanças de outrora virem apenas isso - esperanças... de outrora.
Porque quando entramos em algo, no que quer que seja, nutrimos - sempre, mesmo quando não dizemos, ou achamos que não - esperanças. Esperanças de que os tempos se coadunem; de que os diálogos comecem, recomecem ou jamais existam; de que encontremos amores escondidos, ou mesmo jamais existentes.
Porque entrar em qualquer relação, amor, amizade ou compadrio, é aceitar que o futuro não esteja dado de antemão, mas que algo de bom nele possa vir a acontecer; e deixar de acreditar é recolher as velas, apagar as lamparinas, esconder as boas roupas, reconsiderar as palavras, recolher as feridas, curá-las, sará-las, para preparar-se para algo NOVO.
E o novo, quando surge, muitas vezes leva algum tempo para retomar a confiança; para acender a esperança; para alimentar a crença; para estipular um preço e um custo a todo esforço a ser retomado rumo a algo que pode ser simples espera. Para que algo dê margem a outro é preciso tempo; e o tempo exige ultrapassar a descrença; superar a dor daquilo que já se foi.
Por isso, quando se afastar, afaste-se mesmo. Não ligue. Não pense. Não rememore. Esqueça quem era quando antes era com a outra pessoa. Rememore quem era antes, e tente ver se dali surge ainda algo que preste. Sempre surge, saiba disso. Sempre houve alguém que podia superar antes do aparentemente insuperável.
E acredite. Tudo passa. Se deixarmos que vá.