O amor é mão dupla
Claro, nós sabemos que a pessoa fará parte de nossa vida somente se ela mesma quiser. Mas a gente supõe que, se fizermos o que devemos, ela naturalmente irá cair em nossos braços.
Mas infelizmente isso é falso. Não é porque nos entregamos, damos o melhor de nós, nos superamos e lhe cedemos espaço, seja em termos concretos ou em nossos corações, que a pessoa que amamos pode fazer parte de nossa vida. Tudo, ao contrário, irá depender de como as coisas acontecem, de como essa própria pessoa cresce e nos concebe como importantes, e se ela realmente se convence de que podemos dividir a vida com ela.
Nossa criação pode nos levar a pensar que tudo depende em última instância de nós mesmos. Uma criação cristã ou sofrida, em que vemos pessoas ou personagens se dedicando à outra pessoa, desistindo dos próprios sonhos, reduzindo seu ego a muito pouco, e tudo para poder reter para si a pessoa que amam. Essa mesma criação pode nos dificultar encontrar um bom termo em nossas reflexões sobre aqueles que amamos. Por outro lado, existem muitos mitos do amor impossível, do amor que apesar de tudo se torna possível, de amores que tinham tudo para não darem certo mas acabam dando, assim como toda uma mitologia de que, por meio do sofrimento, a gente encontra o que busca. Não que essa mitologia não tenha um fundo de verdade, tem; mas há mitologias e mitologias; pois há quem pense em tamanhas ilusões tornadas reais que cumpre antes de mais nada duvidar. Nem que seja por um princípio de prudência.
Um relacionamento se faz aos poucos. Não é porque uma pessoa se abandona a outra que naturalmente pode ou quer ficar com ela para sempre, ou mesmo por um bom tempo. Não é porque uma pessoa sente saudade sincera da outra que naturalmente quer ficar com ela. Assim como não é porque as pessoas se dão bem que necessariamente precisam entabular relacionamentos para a vida toda. Tudo depende muito de como tudo se desenrola. E muitas vezes o acaso cumpre um papel fundamental nisso tudo.
E, como um relacionamento se faz aos poucos, é aos poucos que ele deve ser construído - e deve-se duvidar dele, caso aparente ser o que não é. Por isso, essa mentalidade que acha que aquilo que pede necessariamente deva ser-lhe dado porque acredita e diz que tem bom sentimento nessa sua crença deve ser logo descartada como mentalidade adequada a relacionamentos bons e duradouros.
Quem ama, acredita; mas também duvida.