Mas e se todos os manuais falharem?
Estava aguardando ser chamado para um exame de rotina e deparei-me com a cena de uma menininha de uns 5 anos com um tablet enorme, quiçá do tamanho daqueles caderninhos brochura, “brincando” de maquiar uma boneca. Fazia a sombra nos olhos, passava batom e enchia o rosto da boneca de blush. Parecia estar se idealizando na imagem que forjava. Escutei enquanto sua mãe fazia a ficha que elas eram de uma cidadezinha bem pequena, na realidade a localidade em que moram é distrito de outra cidade.
Fiquei imaginando que já não conheço tão bem a realidade das pessoas. O rural já não é mais tão rural como antes. Os objetos tecnológicos fazem mais parte dos pequenos espaços do que em outros momentos.
Será que precisamos de tanta artificialização?
Outro fato me chamou a atenção: mesmo com a introdução da tecnologia o conservadorismo manteve-se forte. Carrinho para os meninos. Boneca para as meninas. Vídeo game e bola para a molecada e as menininhas aprendendo a fazer maquiagens. E hoje em dia turbinados pela era da informação. Os pais na sua grande maioria não estão preparados para libertar-se das correntes dos “bons costumes”. Apenas continuam reproduzindo o que receberam durante a vida toda.
Mas e se tudo que nos ensinam desde criança de como devemos viver a vida falhar? E se o manual estiver ultrapassado? Aí poderemos pela primeira vez nos deparar com a realidade. Quem faz manual desconta do total os “diferentes”. Redigem leis e regras para a maioria. E dessa forma esperam que sigam sem questionar os mandamentos. Poucos se atrevem a questionar os atuais modelos, e quando o fazem são chamados de baderneiros; bárbaros destruindo a ética.
O que está infiltrado em muitos discursos - mas que atualmente não passa de enfeite - pode apresentar-nos uma solução. Precisamos de pessoas reflexivas, que se atentem que nem tudo deve vir mastigado. Que nem sempre precisamos de alguém para nos dizer quando e como fazer, mas sim pessoas dispostas a apresentar diversos caminhos. Mesmo que tais opções contenham determinado direcionamento, afinal a neutralidade é uma farsa, podemos instigar a verdadeira reflexão. A busca, a ciência.