Transa: escute com os joelhos dobrados
O nome do mito: Transa. O nome do criador: Caetano Veloso.
É impossível questionar os arrepios causados na pele quando Gal Costa invade You Don’t Know me, a primeira faixa do disco. A atmosfera em que esse som aparecer será transcendental - e essa é uma afirmação irredutível. Transa tem todos os motivos do mundo para ser considerado uma das mais belas obras da cena musical brasileira, pois é um álbum de retorno, um álbum que pede através da voz [vibrante] de Caetano que a pátria lhe seja berço novamente.
Um disco com composições geradas pelo filho de Dona Canô e com arranjos de Jards Macalé não poderia ter uma síntese de grandeza e surrealismo maior. Transa tem cheiro de terra, Transa merece ser ouvido com os pés no mato. Não existe Triste Bahia onde se encontra a presença de Caetano Veloso. Voltou em 1971 somente para assistir a missa de comemoração de quarenta anos de casamento dos pais. Foi perguntado se poderia fazer uma musica exaltando a Rodovia Transamazônica que ainda estava em processo de construção: leonino misterioso, não acatou o pedido, mas voltou para o Brasil em janeiro de 1972 com uma jóia a ser entregue diretamente nas mãos da arte brasileira. Um presente supremo, no mínimo.
Transa completa quarenta anos em 2012. É o mesmo numero que tinha o casamento dos pais de Bethania e Caê quando o rapaz voltou da gélida Londres para o país onde as pessoas são tropicais. It’s a long way, Neolithic Man, Nine out of Ten: algumas canções cantadas na língua do desalento, mas com um suor pau-brasil incontestável. O disco merece que teçamos todos os elogios imagináveis devido a visível genialidade das suas composições. A intensidade transbordou pelas mãos de Caetano mais uma vez.
Transa transcendeu. Transa transcende.
para Victor Bauab.