Nosso Tempo
Para os gregos, nosso mundo era filho do tempo com o inevitável - o salão onde ecoa o tique-taque do destino. Para os modernos, o tempo é a medida do homem sobre os fluxos naturais. Uma hora, três minutos, nove dias - no fim são ponteiros correndo em círculo, voltando ao mesmo lugar.
Perdeu-se alguma coisa com o tempo.
O tempo das coisas tem mudado. Tudo é instantâneo (O macarrão, a ligação e as notícias do Japão) porém, ainda valorizamos o selo de qualidade do tempo. Nenhum artista é bom antes que passem-lhe os anos (quem sabe a vida). Nossas fotos são antigas segundos após o clique. Temos câmeras cada vez menores e melhores para simular as fotografias distorcidas do século passado. A moda mais nova é se vestir como o vovô. Óculos, cachimbo e cachecol.
Ainda assim, ninguém quer envelhecer. E vamos de Photoshop, Botox e vagas para idosos reservadas para os que tem pressa. Os jovens que não tem tempo a perder. Nem temos tempo pra perder. Nem pra comer. E vamos de macarrão instantâneo na frente da TV. E do PC.
Nossos filmes tem muito mais planos por minuto. Nossos minutos, menos planos. Não lembramos de nada, e eles duram uma hora. Nossas músicas são rápidas. E altas. Lembramos delas toda hora e elas duram três minutos. Nossos livros tem muito menos palavras. Nossas palavras, tem menos… como é o nome mesmo?
Sou jovem demais pra reclamar e velho demais pra brigar. Sinto como se corresse em círculos num salão enorme - onde meus passos ecoam o tique-taque do destino. Uso relógio, mas vejo as horas no iPhone. Onde posso ler até notícias do Japão. Vou vendo filmes, lendo livros e ouvindo músicas. Às vezes ao mesmo tempo. Mas, agora, no meu tempo.