Han Shan
Gary Snyder no Japão em 1963 em foto tirada pelo poeta Allen Ginsberg
Li no final de 2012 Os Vagabundos do Dharma de Kerouac e um pouco por conta disso, um pouco por conta do sofrido caminho do zazen, resolvi traduzir poemas zen para relaxar e tentar pescar sem muito esforço. Peguei alguns do Han Shan (Montanha Gelada), monge poeta mítico que viveu no século VII ou VIII (Dinastia Tang) e é ligado ao budismo chan (que deu origem ao zen japonês). O Gary Snyder, poeta e budista americano que foi parte da chamada geração beat (que Kerouac transforma no iluminado Japhy Ryder do livro), traduziu muita coisa de Han Shan para o inglês a partir do chinês.
Em algumas traduções me baseei em material dele e do Burton Watson. Nas traduções baseadas em escritas ideogramáticas a ideia da tradução como re-criação é absolutamente verdadeira. O poema abaixo, por exemplo, tem "versões" muito diferentes de Snyder e de Burton; isso acaba por deixar o trabalho bem mais divertido.
I Os homens me perguntam o caminho para a Montanha Gelada Montanha Gelada? Não existe trilha que a cruze No verão, o gelo não se derrete O sol nascente reflete na neblina girante Como posso fazer isso? O meu coração é diferente do de vocês Se o coração de vocês fosse como o meu Vocês iriam buscá-la e ela estaria bem aqui
Traduções do chinês por Gary Snyder e Burton Watson
II Acima da Montanha Gelada a lua brilha sozinha No céu claro ela não ilumina nada Joia celeste de valor inestimável Enterrada nos skandhas submersos no corpo
Tradução do chinês por J. P. Seaton
A "montanha gelada" onde os budistas chineses acreditam que Han Shan meditou
III
Terei eu um corpo ou não? Serei quem sou ou não? Meditando sobre isso, Eu sento apoiado no precipício ao longo dos anos, Até a grama verde crescer entre meus pés E a poeira vermelha assentar em minha cabeça E os homens do mundo que me tem por morto Ofertarem vinho e frutas para o meu corpo
Traduções do chinês por Gary Snyder e Burton Watson
IV
Eu penso em um tempo há vinte anos Quando costumava caminhar tranquilamente para casa perto de Kuo-ching E todas as pessoas do monastério de Kuo-ching diziam: - Han Shan é um idiota Eu sou realmente um idiota, reflito Mas minhas reflexões não conseguem resolver uma questão: Se eu mesmo não sei quem é o eu, Como podem os outros saber quem eu sou?
Traduzido do chinês por D. T. Suzuki
V
Ela ri tanto que tenho de cair para trás Eu rio tanto que ela se dobra Rimos não nos façam parar
Tradução do chinês por Burton Watson
Han Shan e Shi De, comumente retratado a seu lado