Conto de fadas inusitado
Era uma vez uma princesa muito voluntariosa. Loira, peitos volumosos, vestido algum se comportava diante de tal montante. Seus cachos cobriam-lhe as costas, cada trança dançando um baile sereno. Quando sorria, trazia luz a dias nublados e rivalizava brilho com o céu ensolarado. Eram vários os pretendentes. A todos, porém, desdenhava.
Chegou ao reino um príncipe de pagos distantes. Era filho de um rei de vários castelos. Superava a todos os outros pela opulência na riqueza e na beleza. Alto, os ombros marcavam-lhe a camisa com dois gomos salientes. O peito arfava tal qual uma montanha soçobrada por tremores intensos. O sorriso contagiava os presentes.
Desceu do cavalo. Vieram ajudá-lo; porém, desenvolto, desvencilhou-se das amarras e, num périplo escorreito, alçou o chão. A capa, suave, cobriu-lhe as costas, incendiando a nução dos presentes. A princesa lixava as unhas, mantendo aquele sorriso iluminado outrora mencionado. O varão se apropinqua, cada passadela ribombava na grama como um anúncio. Ela volveu os olhos para ele, sem afetar-se. - Bela, casa-te comigo?
Ela quedou a delicada cabeça, a franja eclipsou-lhe o olho direito. Num esgar, nada digno de princesa, baforou uma golfada de ar, que devolveu a madeixa rebelde à vasta cabeleira: - Não... Um muxoxo tomou conta da plateia que seguia o príncipe. Todos torciam as mãos pela aprovação de um fantástico himeneu que se avizinhava.Malogro geral, decidiram, enfim, cuidar de suas vidas. O lavrador pôs-se a ser a melhor semeador do mundo; a costureira fiou sem parar, até deixar todos os pimpolhos do reino com airosas vestiduras. O príncipe partiu a galope para suas terras, jogou futebol, bebeu muito com os amigos, ganhou torneios de arco e flecha e se casou com uma jovenzinha ingênua e dengosa.
A princesa descobriu, na solidão, o chocolate, engordou e adotou uma praça onde descavava nozes para os esquilos, seus únicos amigos, comerem.